terça-feira, maio 23, 2017

Adelaide Chiozzo provoca desastres ...

De caloura do programa "Papel Carbono", Adelaide atingiu a glória ao microfone da PRE-8.

A história tem alguma coisa de semelhante à de Cinderela ... Não que Adelaide Chiozzo fosse descoberta pelo sapatinho ... Todavia, há a figura providencial daquele senhor que, passando pela imobiliária do "seu" Geraldo, procurou saber quem arrancava do acordeom tão bonitas melodias. E, quando descobriu, fez tudo para inscrevê-la no programa "Papel Carbono", a ser apresentado no dia seguinte. (Reportagem: Armando Migueis; Fotografia: Milan)

Sobraçando o instrumento do “papai", Adelaide Chiozzo, mais nervosa do que calma, bateu um ligeiro papinho com Renato Murce, e, após ensaiar "Mariana", propôs-se imitar o sanfoneiro Pedro Raimundo, enquanto o “mano” Afonso, também presente ao programa, inscrevia-se para bancar o Luís Gonzaga. Na hora da apresentação, a nossa entrevistada fez o auditório da Rádio Nacional vibrar com a imitação, levando Vítor Costa a contratá-la por três meses, para constituir, em dupla com o Afonso, uma nova atração para os sintonizadores da PRE-8.

Desconhecendo por completo uma nota musical sequer, Adelaide Chiozzo ingressou no “broacasting” carioca através da mais popular emissora brasileira. Isto, porém, não constituiu fato importante na vida da estrela. Tanto que, decorridos os três meses de contrato, a dupla Irmãos Chiozzo passou a atuar em diversas estações.

Só em 1949, com o casamento de Afonso, é que Adelaide voltou à Rádio Nacional, como integrante do conjunto de Dante Santoro. A essa altura, porém, o cinema nacional já contara com seu concurso, em "Este mundo é um pandeiro", em que apareceu executando um número ao lado do “cowboy” Bob Nelson. A esse filme seguiu-se "E com este que eu vou", ainda com Bob Nelson.

Quando tudo parecia correr às mil maravilhas, "seu" Geraldo enguiçou com a presença da filha no rádio. Como consequência, veio seu imediato afastamento dos programas da PRE-8 e um descanso forçado, que durou até 1951, quando Renato Murce, com muito jeito, convenceu “seu” Geraldo a deixar a filha excursionar pelo interior paulista. Nessa excursão, apesar da presença da mamãe, Adelaide descobriu seu príncipe encantado, na figura do violonista Carlos, que, como os demais excursionistas, fazia parte do “cast” da Nacional.

Adelaide Chiozzo, ao retornar ao Rio, voltou a ser assediada pelos diretores da PRE-8 com um contrato vantajoso. Como sabe contar até dez, não teve dúvidas em assiná-lo, passando a exclusiva. Hoje, gozando de popularidade imensa, a filhinha do “seu” Geraldo é a segunda colocada no volume de correspondência, recebida, a qual responde religiosamente. A média de cartas que lhe são remetidas por semana atinge a duas mil e quinhentas.

Brilhando na constelação do rádio, abafando nas grandes cidades do interior brasileiro e enchendo de lucro as marcas de gravações, Adelaide Chiozzo constitui, afinal, um apreciável reforço de bilheteria para o cinema nacional. Depois de participar de “Carnaval no Fogo”, “Aviso aos Navegantes”, “Aí vem o Barão”, “Barnabé, tu és meu”, a vitoriosa acordeonista aparecerá estrelando “É fogo na roupa”, em que fará o papel romântico de “Diana”, ao lado de Benê Nunes, Heloísa Helena e Ivan Curi.

Adelaide Chiozzo, entre os números de sucesso que já gravou, destaca “Tempo de criança”, que alcançou a vendagem de trinta mil discos; "Pedalando”, com sessenta mil, e “Beijinho doce”, que, diga-se de passagem, foi o seu maior êxito, haja vista que até agora, já vendeu noventa e cinco mil. Afora esses números, gravou na cera “Para bombardino”, “Cada Balão uma Estrela”, “É noite, moreno”, “Minha Casa”, “Zé da Banda”, “Vapô de Carangola” e muitos outros.

Conhecendo duzentas e dez cidades brasileiras, a estrelíssima da PRE-8 tem servido de tema para alguns casos pitorescos, como o ocorrido na Avenida Presidente Vargas, em que um fã, embevecido pela intérprete de “Beijinho Doce”, abalroou-lhe o carro, provocando sério prejuízo. Mas, diante da satisfação de falar com Adelaide, prontificou-se a pagar todos os prejuízos, embora recomendasse ao Carlos que lhe arrumasse um retrato da esposa autografado.

Foi também em consequência da popularidade que não lhe foi possível inaugurar, na data marcada, os estúdios da Rádio Timbira, em São Luís do Maranhão, tal o acúmulo do público. Foi preciso transferir para o dia seguinte a solenidade, quando as autoridades providenciaram seguro cordão de isolamento. É desse jeito o prestígio de Adelaide Chiozzo.

Nascida no Braz, em São Paulo, num dia treze de maio, é louca por macarronadas à italiana. Seu maior desejo, consiste em ter seis filhos, e para tanto sonha com uma fazendola para melhor criá-los. Mas, enquanto os guris não nascem, ela sai todas as manhãs, de caniço e samburá, rumo às pescarias, juntamente com o esposo.


Fonte: Revista Cinelândia, edição 11, março de 1953.

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