Sátiro Lopes de Alcântara Bilhar, instrumentista e compositor (Ceará 1869 - Rio de Janeiro RJ 1927). Foi telegrafista-chefe na Estrada de Ferro Central do Brasil. Era muito considerado entre os chorões antigos, como Catulo da Paixão Cearense, cujo grupo boêmio frequentou, Villa-lobos e Donga, por sua capacidade de improvisar em sucessão de acordes, enquanto afinava o violão.
No dia 7 de setembro de 1903 participou da serenata organizada por Eduardo das Neves em homenagem a Santos Dumont.
Tio da compositora Branca Bilhar, sua ação e importância como músico se desenvolve na área dos músicos de choro das gerações anteriores à profissionalização dos instrumentistas de música popular, primeiro no disco, depois no rádio.
De sua obra conhecem-se, entre outras, as composições: Gosto de ti, porque gosto... (com Catulo da Paixão Cearense), canção; Tira poeira, polca; Estudos de harpa, para violão; O que vejo em teus olhos, modinha; As ondas são anjos que dormem no mar (com Catulo da Paixão Cearense), modinha; Tu és uma estrela, modinha.
O velho Bilhar
"O inesquecível Satyro Bilhar foi um astro que só aparece de século a século, que neste planeta foi o farol, que iluminou a boêmia entre os grandes boêmios onde ele se destacava como um sol que brilha e rebrilha suplantando as tristezas, revivendo as alegrias. O seu desaparecimento deixou um grande vácuo, entre os chorões da velha guarda difícil de ser preenchido tal era a sua verve; a sua intelectualidade, e a sua palavra fácil de trocadilhos repentinos e inspirados pela bondade do seu grande coração.
Quem não conheceu o Velho Bilhar, amigo inseparável de Paula Ney? Chefe telegrafista da E. F. C. B. aposentando-se com quarenta anos de serviços sem ter nunca perdido um dia o Bilhar, além de ser um pouco gago sabia dizer com graça, era míope de verdade, o Bilhar, era um chorão que tinha primazia entre outros chorões nos acordes, nas harmonias, no mecanismo da dedilhação com que manejava agradavelmente o seu violão. Quando um flauta tocava um choro ele dizia: "Virgem Maria isso pra mim é água com açúcar". O Bilhar também conhecia as músicas clássicas, e tinha produções suas, como os “Arpejos d'arpa” e “Melodias”, as posições com que o Bilhar tirava os seus acordes eram tão difíceis que só ele sabia fazer, razão porque apesar de sua grande boêmia, Bilhar, era um chorão conquistado pelos seus amigos e por suas famílias.
Parece-me estar ouvindo ainda ele dizer: "Tu és uma estrela de primeira grandeza"! (tá doido Ave Maria) o que palpita lá palpita cá; minha família é minha vida inteira! E viva São João pro ano, ta errado com o velho Bilhar, gosto de ti porque gosto porque meu gosto é gostar, no rio o caudal da vida que tem por margem a descrença, as ondas são anjos que dormem no mar, porque vejo em teus olhos um luzeiro que me guia, eram estes os ditados e as modinhas do repertório de 40 anos do velho Bilhar, com o seu tradicional pince-nez, pois os grandes chorões ainda não conseguiram imitá-lo e reconhecem que Bilhar, foi o rei dos acordes.
Quando ele acompanhava um choro, e que tinha uma passagem que lhe agradava ele pedia ao cantante: repete por favor, era um encanto vê-lo solar a sua tradicional polca "Tira Poeira", no piano também era um chorão, afinal, o velho Bilhar, era uma casa cheia, onde ele estava, as moças o rodeavam, presas pelo seu fino espírito de graças atrativas imperadas pelo respeito e delicado trato de que era possuidor. Bilhar foi um chorão que deixou saudades ao pessoal da velha guarda e aos chorões modernos" (O Choro - Reminiscências dos chorões antigos - 1936 - Alexandre Gonçalves Pinto).
Fontes: Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Editora, 2000; O Choro - Reminiscências dos chorões antigos - 1936 - Alexandre Gonçalves Pinto.
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