terça-feira, abril 04, 2006

O Carnaval


Carnaval, festa popular, de caráter coletivo, geralmente considerada como reminiscência das festas pagãs greco-romanas realizadas a 17 de dezembro (Saturnais) e 15 de fevereiro (Lupercais), quando se comemoravam as colheitas, comendo e bebendo desbragadamente, e se permitia inclusive aos escravos usar máscaras.


Foi introduzido no Brasil pelos portugueses, com o nome de entrudo (de introitus,“começo, entrada”, nome com que a Igreja Católica designava as solenidades litúrgicas da Quaresma, quando se exige retirada da carne, base mórfica admitida para carnaval e formas afins de várias línguas modernas).

Brincadeira de rua suja e violenta, muito praticada pelos negros escravos desde o séc. XVIII, o entrudo passou a coexistir com o Carnaval moderno, inspirado em modelo europeu, a partir dos bailes de máscaras, principalmente em teatros (o primeiro foi realizado no Rio de Janeiro RJ em 1840), e dos desfiles de carros alegóricos, iniciados em 1854, ainda no Rio de Janeiro, sob o patrocínio do escritor José de Alencar. Durante o entrudo dos negros e das camadas populares, e assim no Carnaval das novas camadas da classe média da segunda metade do séc. XIX, foliões dançavam e cantavam nas ruas quadrinhas de autores anônimos, ao ritmo de percussão, dançando nos salões ao som geralmente de bandas, que tocavam os gêneros europeus da época, principalmente a polca, o xótis, a valsa e a mazurca.

A música especialmente composta para Carnaval surgiu com a marcha de Chiquinha Gonzaga intitulada Ò abre-alas, de 1899, embora desde a década de 1880 os cordões carnavalescos cariocas tornassem conhecidas composições de autoria dos próprios foliões anônimos, como a do cordão Flor de São Lourenço, citada pela pesquisador Mansa Lira, que teria popularizado em 1885 a quadrinha “O dona Mariquinhas/Agite seu lenço/ Para dar um viva/À Flor de São Lourenço”.

Quanto ao famoso Zé Pereira, música que até hoje anuncia, em fanfarra, a abertura dos bailes de Carnaval e é considerada a primeira canção especialmente adaptado ao ritmo dos foliões de rua — os tocadores de zabumbas chamados zé-pereiras — ironicamente não constitui uma criação brasileira, mas tem suas origens em tradição portuguesa associada à cena cômica Zé pereira carnavalesco, da peça musicada francesa Les pompiers de Nanterre, representada no Teatro Fênix, do Rio de Janeiro, em 1869.

A partir de fins da década de 1970, apesar das tentativas da TV Globo e da Rádio Nacional (com apoio da Riotur) de reviver em 1976, no Rio de Janeiro, o interesse pela música de Carnaval — a primeira com o programa Convocação Geral, a segunda com um concurso de marchinhas — a era da produção musical exclusivamente carnavalesca chegou ao fim. No mesmo ano de 1976, duas marchas aproveitavam o bordão “Mexa-se!”, de uma campanha de televisão promovendo esportes, outra explorava o sucesso da figura do detetive Kojak, também da TV. E até um carimbó paraense, então ritmo de dança da moda (que antecipava em dez anos seu subproduto internacionalizado, a lambada), figurou no agonizante “repertório carnavalesco do ano”.

Assim, ao despontar da década de 1980, os eventuais "sucessos" da música de Carnaval passaram a sair apenas da televisão (inclusive de trilhas de novelas), da regravação de músicas antigas (caso da marcha Balancê, de João de Barro e Alberto Ribeiro, de 1937, revivida como música de meio de ano por Gal Costa em 1980, e a mais cantada no Carnaval de 1981), ou, finalmente da promoção pessoal de apresentadores de TV de grande popularidade, como Chacrinha que, valendo-se da parceria com o experiente compositor João Roberto Kelly, transformou a marcha Maria Sapatão no maior sucesso do Carnaval de 1981.

Fora de tais casos, o que se chamou de música carnavalesca passou a confundir-se, ao findar do século XX, com os samba de enredo de maior sucesso nos desfiles das escolas de samba de primeiro grupo do Rio de Janeiro e de São Paulo SP: únicos a merecerem a gravação em CDs, para conhecimento do público antes do Carnaval.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

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