Não são poucos os violonistas canhotos no Brasil. Alguns deles, com status de estrelas de primeiríssima grandeza (como o paulista Américo Giacomino, o Canhoto, o maior nome do instrumento no início do século), deram importantes contribuições para a fixação do violão como o mais brasileiro dos nossos instrumentos populares. Mas todos eles necessitavam inverter as cordas para aprender; primas para cima, bordões para baixo, de maneira que somente canhotos pudessem dedilhar o instrumento. Todos, menos um.
No alto sertão paraibano, na lendária cidade de Princesa Isabel (onde "pau-pereira já roncou", como cantava Luiz Gonzaga), entre nove irmãos, nasceu Francisco Soares de Araújo, em 19 de maio de 1928. O avô era clarinetista da banda, o pai tocava violão, os irmãos distribuíam-se entre vários instrumentos e logo o Chico começou a tocar todos eles, por conta própria. Tanto assim que, já adolescente, tomou puxão de orelha de "seu" vigário, que tolerava a maneira suingada como seu pequeno sacristão tocava os sinos, mas não perdoou quando o flagrou rasgando o frevo Vassourinhas, no... órgão da igreja.
Mas Chico gostava mesmo era de violão. O problema é que para ensiná-lo "só mesmo na frente do espelho", como dizia seu pai, quando desanimou da tarefa. Canhoto irreversível, tratou de aprender sozinho. Como o instrumento era usado pela família toda, não podia inverter as cordas, o negócio era simplesmente virá-lo ao contrario, de cabeça para baixo e...tocar.
Tocar magistralmente, a ponto de em pouco tempo a confraria dos gênios musicais brasileiros saber dele. Pixinguinha, Luperce Miranda, Tia Amélia, Severino Araújo, Dilermando Reis já sabiam que pelo Nordeste - agora já adulto, tocando no Regional da Rádio Jornal do Comercio do Recife, depois de estágio nas mesmas funções na Rádio Tabajara, de João Pessoa - existia um violonista fora de série, à altura dos melhores do país.
Em 1959, visita o Rio de Janeiro e em um sarau na famosa casa de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá, torna-se amigo de todos os seus ídolos, principalmente do jovem Paulinho da Viola, que o homenageia com o choro Abraçando o Chico Soares. Nunca quis fazer carreira no Sul, mesmo tendo gravado um LP (produzido por Paulinho), preferindo continuar sua vida de "chorão" ao lado dos amigos no Recife.
Tão bom compositor quanto intérprete, Canhoto da Paraíba - nome com que se inscreveu definitivamente na história do violão brasileiro - realizou algumas incursões por São Paulo e Rio de Janeiro, exibindo um talento que sempre deixou um gosto de "quero mais" nos que tiveram contato com ele.
Arley Pereira
ENSAIO - 12/4/1994
No alto sertão paraibano, na lendária cidade de Princesa Isabel (onde "pau-pereira já roncou", como cantava Luiz Gonzaga), entre nove irmãos, nasceu Francisco Soares de Araújo, em 19 de maio de 1928. O avô era clarinetista da banda, o pai tocava violão, os irmãos distribuíam-se entre vários instrumentos e logo o Chico começou a tocar todos eles, por conta própria. Tanto assim que, já adolescente, tomou puxão de orelha de "seu" vigário, que tolerava a maneira suingada como seu pequeno sacristão tocava os sinos, mas não perdoou quando o flagrou rasgando o frevo Vassourinhas, no... órgão da igreja.
Mas Chico gostava mesmo era de violão. O problema é que para ensiná-lo "só mesmo na frente do espelho", como dizia seu pai, quando desanimou da tarefa. Canhoto irreversível, tratou de aprender sozinho. Como o instrumento era usado pela família toda, não podia inverter as cordas, o negócio era simplesmente virá-lo ao contrario, de cabeça para baixo e...tocar.
Tocar magistralmente, a ponto de em pouco tempo a confraria dos gênios musicais brasileiros saber dele. Pixinguinha, Luperce Miranda, Tia Amélia, Severino Araújo, Dilermando Reis já sabiam que pelo Nordeste - agora já adulto, tocando no Regional da Rádio Jornal do Comercio do Recife, depois de estágio nas mesmas funções na Rádio Tabajara, de João Pessoa - existia um violonista fora de série, à altura dos melhores do país.
Em 1959, visita o Rio de Janeiro e em um sarau na famosa casa de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá, torna-se amigo de todos os seus ídolos, principalmente do jovem Paulinho da Viola, que o homenageia com o choro Abraçando o Chico Soares. Nunca quis fazer carreira no Sul, mesmo tendo gravado um LP (produzido por Paulinho), preferindo continuar sua vida de "chorão" ao lado dos amigos no Recife.
Tão bom compositor quanto intérprete, Canhoto da Paraíba - nome com que se inscreveu definitivamente na história do violão brasileiro - realizou algumas incursões por São Paulo e Rio de Janeiro, exibindo um talento que sempre deixou um gosto de "quero mais" nos que tiveram contato com ele.
Arley Pereira
ENSAIO - 12/4/1994
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