terça-feira, outubro 30, 2012
Cantoras do Rádio
Grupo formado em 1987, e integrado por Ademilde Fonseca, Carmélia Alves, Ellen de Lima e Violeta Cavalcanti, veteranas da era de ouro do rádio no Brasil. O nome do grupo foi sugerido pelo ator Érico de Freitas, então diretor da Sala Funart Sidney Miller, quando o grupo original fez seu primeiro espetáculo, como se fosse um programa de auditório dos anos 50.
Em suas várias formações, o grupo gravou dois discos, com grandes sucessos de cada uma de suas integrantes, sendo lançados em várias cidades brasileiras. De suas outras formações constaram Nora Ney, Rosita Gonzales e Zezé Gonzaga.
Em 13 de julho de 2001, o grupo estreou no Café-Teatro Arena. Desta vez, com a seguinte formação: Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas, Ellen de Lima e Violeta Cavalcanti. Apresentou o show "Estão voltando as flores", com direção e roteiro de Ricardo Cravo Albin e produção de Cláudio Magnavita. O espetáculo foi composto de 11 quadros e 40 músicas, que permearam sucessos pessoais de cada uma das integrantes e ainda outros 10 sucessos pinçados do repertório de divas da canção popular: Nora Ney, Carmem Miranda, Dolores Duran, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Dircinha Batista, Isaurinha Garcia, Aracy de Almeida, Linda Batista e Aurora Miranda.
Em 2002, o grupo voltou a se apresentar no teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, as Cantoras do Rádio se apresentaram no Teatro Trianon, na cidade de Campos dos Goytacazes, no show "Sim, estão voltando as flores" dirigido por Ricardo Cravo com o apoio da Folha da Manhã, ONGs Ecos do Rio Paraíba, Fundação Trianon e do Grupo MPE.
Ainda em 2002 o grupo se apresentou no Teatro Rival BR, para lançar o disco Estão Voltando as Flores editado pela Som Livre, permanecendo duas semanas com sucesso.
Discografia
As eternas cantoras do rádio • CID • CD (1991)
As eternas cantoras do rádio. Vol. 2 • CID • CD (1993)
Estão voltando as flores • Som Livre (2002)
Eternas, magníficas, as cantoras do rádio
Elas se lembram com saudade, não propriamente nostalgia, dos áureos tempos da Rádio Nacional. "Apesar do glamour, éramos funcionárias da rádio, que era uma autarquia. Tínhamos de bater ponto e seguíamos a escalação dos programas, como uma ordem do dia. Mas, na hora de cantar, íamos de gala, tínhamos roupas maravilhosas, não era como hoje, quando os artistas fazem show de roupa rasgada e vira moda." Carmélia Alves, Carminha Mascarenhas e a caçula do grupo - "A nossa menina" -, Ellen de Lima. Há mais de 20 anos Carmélia e Ellen voltaram à estrada, fazendo shows. A partir de 1988, As Eternas Cantoras do Rádio virou um hit no palco e em CD. Carminha integrou-se ao grupo há oito anos, substituindo Nora Ney. As três estão no documentário Cantoras do Rádio, de Gil Barone e Marcos Avellar, que estreou ontem. Há uma quarta cantora no filme, mas Violeta Cavalcanti, vítima de Alzheimer, já não canta mais.
Cada uma representa um estilo. Carmélia, o baião; Carminha, com sua voz de contralto, a fossa; e Ellen, com sua habilidade de soprano, não se fixa em um estilo nem gênero, mas tem liberdade para cantar todos os clássicos. Violeta, ausente neste encontro que se realiza na chuvosa tarde de quarta-feira, num hotel dos Jardins, tinha - tem - o samba no corpo, e na voz. O repórter comenta o atual boom dos documentários musicais. Fala de Um Homem de Moral, de Ricardo Dias, sobre Paulo Vanzolini - Carmélia Alves dispara a cantar, "Não fica no chão/Nem espera que mulher/lhe venha dar a mão..." O repórter insiste, faz a pergunta tola, se elas conhecem Ronda? Como? "Ronda é um clássico!" É a vez de Ellen cantarolar.
Uma carioca (Carmélia), outra mineira (Carminha), a terceira, baiana (baianíssima!, Ellen). Representam a própria brasilidade. Todas reinaram na Nacional, a rádio mais poderosa do Brasil - do mundo! -, que dividia suas cantoras em três plantéis. Havia um primeiro time inatingível, as divinas; um meio de campo, no qual estavam; e o terceiro time, formado por cantoras que iam parar na Rádio Nacional por indicação de políticos - era uma autarquia, não se esqueçam. A rádio ficava na lendária Praça Mauá, no Centro do Rio. Todas tiveram forte ligação com São Paulo. Carmélia foi casada - durante 54 anos - com o paulista Jimmy Lester, que cantava em inglês. Em 1998 ele morreu em Teresópolis, no Estado do Rio, e ela o trouxe para ser enterrado em São Paulo. Nesta semana, por conta da agenda de lançamento de Cantoras do Rádio na cidade, Carmélia circulou bastante por Sampa. Ao passar pelo cemitério, teve uma coisa. A saudade bateu forte.
Carminha e Ellen têm outra ligação com São Paulo. Como crooners, revezavam-se na boate Oásis. Cada vez que a temporada de algum artista não caía no agrado do público, o dono, desesperado, chamava Carminha ou Ellen no Rio e elas vinham salvar a pátria. Falam todas ao mesmo tempo. Cada uma tem sua história para contar. Carmélia Alves arregala o olho e pergunta - "Você sabia que sou uma assassina?" Lembra do sujeito que assistia a um show numa boate e que disse: "Carmélia, você me mata com seus baiões!" e morreu de verdade, fulminado por um ataque. A história, contada agora, é tragicômica, mas foi um horror. Carmélia tinha um título e sempre foi o de ?rainha do baião?, mesmo quando era crooner da boate do Copacabana Palace, frequentada pela nata do café soçaite. O repórter diz que viu o documentário sobre o parceiro de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, O Homem Que Engarrafava Nuvens. E...? "O filme é muito legal, tem vários números seus." Carmélia só cantava Humberto Teixeira ou tinha uma ligação mais calorosa com ele? "O Humberto foi um dos fundadores, com o Jimmy, do Clube da Chave, em Copacabana. Era um irmão!"
Ellen passou pelo Clube do Guri, na Rádio Mauá, pelo programa de calouros de César de Alencar e também pelo famoso Papel Carbono, de Renato Murce, quando passou no teste imitando a diva Heleninha Costa. Tornou-se conhecida do público por ser a intérprete da célebre Canção das Misses, escrita por Lourival Faissal, para servir de tema do tradicional concurso de Miss Brasil. De todas as cantoras - as rainhas - do rádio, foi a única que teve uma experiência como teleatriz (na Globo), contracenando - acreditem! - com Fernando Montenegro e Sergio Britto. Carminha veio de Belo Horizonte, convidada por um descobridor de talentos que a deixou na mão, mas o lendário Heron Domingues a ouviu cantar e o resto é história. Carminha foi parar no elenco da Rádio Nacional. Seu filho, o saxofonista Raul Mascarenhas Jr., casou-se com Fafá de Belém. Tiveram a filha Mariana. Carminha fala na neta, também cantora, que incorporou o repertório das divas do rádio.
Todas passaram pelas chanchadas da Atlântida, fingindo que cantavam na tela. "O disco tocava numa vitrola e, às vezes, a agulha emperrava", lembra Carmélia. Cantoras do Rádio é outra coisa. Outra fase da carreira delas, outra fase do próprio cinema brasileiro. O filme é uma apaixonada declaração de amor às eternas cantoras do rádio. Onde vão, há um numeroso público de terceira idade, mas existem também os jovens, que cantam com elas e as reverenciam. É por isso que, quando falam da Rádio Nacional, sentem saudade, mas não tristeza. A vida tem muitas fases e a atual está sendo boa. Carminha Mascarenhas, aos 79 anos, está na fase de se desfazer de muita tralha que acumulou ao longo de sua carreira. Pelo sotaque, ela percebe que o repórter é gaúcho. "Quer o meu Laçador?" Carminha ganhou o troféu de prata cantando Lupicínio Rodrigues. Havia um belo dueto sobre o compositor em Cantoras do Rádio. Carminha e Ellen cantando o rei da dor de cotovelo. Os direitos são caros e o número, como muitos outros, foi cortado. Mas elas cantarolam trechos de Vingança e é um privilégio para o repórter.
Fontes: Luiz Carlos Merten - O Estadao de S.Paulo; Dicionário Cravo Albin da MPB.
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