J. Cascata: um compositor triunfante e um cantor de mérito - Foto: Carioca - Setembro/1936 |
"O verdadeiro nome de J. Cascata é Álvaro Nunes. Ele ganhou esse outro em pequenino, devido à sua grande predileção pelos repuxos da rua, as pequenas cascatas improvisadas pela Prefeitura. Gostava de brincar na água, e por isso deram-lhe o apelido de “Cascata”, ao qual foi acrescentado, mais tarde, um J. à guisa de nome próprio.
Hoje J. Cascata é uma personalidade que se firmou como bom compositor da nossa música regional e que vem agora se impondo como apreciável intérprete das suas próprias composições. Compondo ou cantando ele é um artista vitorioso. CARIOCA foi ouvi-lo, fazendo jus ao interesse que já vem despertando entre os fãs.
Sobre as suas tendências musicais J. Cascata declara o seguinte:
— O amor e as aperturas da vida sempre foram, em todas as épocas, as maiores causas das inspirações poéticas. Os meus sambas sempre se basearam nesses dois motivos. Amando, compus “Minha palhoça”, samba que obteve êxito, lançado por Luiz Barbosa e gravado por Sílvio Caldas. “Mágoas de caboclo”, de parceria com Leonel Azeredo. “Tristezas”, samba feito com Cristóvão de Alencar e muitos outros. Também compus, de parceria com J. Barcellos, “Pra Deus somos iguais”, samba que procura estabelecer teoricamente nivelamento entre as classes.
J. Cascata sorri e continua:
— Reconheço que o bolso é, inegavelmente o nosso maior inimigo. Vazio, torna-se famigerado. Mas às vezes fornece inspirações bonitas. É o lado bom das coisas ruins.
J. Cascata nasceu em Vila Isabel — a vila do samba — no dia 22 de novembro de 1912. Iniciou-se no rádio cantando no programa de Renato Murce. Isto em 1932. Depois veio um longo período de descanso, onde somente a sua “bossa” de compositor não sossegou. Tornou-se em pouco tempo conhecido e requisitado como compositor.
Guardando a voz dentro da garganta, heroicamente — porque isso é um sacrifício muito grande para essas cigarras humanas — J. Cascata limitou-se durante longo tempo a fornecer lindas músicas para os seus colegas. Mas um dia, visitando um programa de Luiz Vassalo, então na Rádio Guanabara, ele cantou de novo, brincadeira. Agradou. Luiz Vassalo, com seu tino de perfeito organizador, chamou-o para o seu “cast”. E assim reiniciou-se a sua carreira radiofônica.
Essa brincadeira de cantar ao microfone tem-me fornecido grandes emoções, porque reconheço que sou nervoso. Cada novo telefonema surpreende: quase sempre é uma voz amável, de fã desconhecida, dizendo palavras animadoras. Reconheço nessas criaturas admiráveis dotes de coração. A vida do artista se resume nisto: incentivo."
Fonte: CARIOCA, de 12/9/1936.
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