segunda-feira, janeiro 20, 2014

Mário Travassos

Mário Travassos - CARIOCA Agosto/1936
Mário Travassos (Mário Travassos de Araújo), compositor, instrumentista e pianista, nasceu em Niterói, RJ, em 12/03/1910, e faleceu na mesma cidade, em 22/06/1950.  Ainda muito jovem, estreou como pianista na segunda metade da década de 1920.

Atuou em 1930 na Rádio Mayrink Veiga acompanhando ao piano, entre outros, a cantora Carmen Miranda. No mesmo ano, apresentou-se na Rádio Educadora no programa "Horas lamartinescas", comandado por Lamartine Babo, acompanhando entre outros Noel Rosa e Marília Batista. Nesse programa foi lançado o samba Sinto saudade.

Em 1931, seu samba Sinto saudade foi sucesso na gravação em dueto de Francisco Alves e Mário Reis na Odeon, e o samba Para amar e não sofrer foi lançado na Victor pelo Trio TBT. No mesmo ano, acompanhou ao piano Lamartine Babo na gravação das marchas Canção para inglês ver e Rapsódia em reus maiores, de Lamartine Babo, e Ricardino Faria nas canções cômicas As coisa tá miorando e Bulio...pagou..., de Ricardo Farias.

Em 1932, o samba Dor de malandro foi gravado por Castro Barbosa na Odeon. No mesmo ano, Helena Fernandes gravou na Columbia o samba-canção Lá na montanha, com Lamartine Babo, e a canção Vontade que volte, com Valdo Abreu.

Já muito conceituado na radiofonia e nas gravações como pianista, teve duas composições gravadas por Luís Barbosa na Victor em 1933: o samba Adeus vida de solteiro, e o samba-canção Jamais... em tua vida, gravações que acompanhou ao piano. Também em 1933, acompanhou Luís Barbosa ao piano na gravação do samba-canção Na estrada da vida, de Wilson Batista, e no samba O que eu sinto por você, de Luís Barbosa. No mesmo ano, o samba Como é linda a lua, com Murilo Caldas foi gravada por Murilo Caldas na Columbia.

Em 1934, os sambas Alô Mossoró e Cheio de saudade foram gravados em dueto, na Victor, por Sílvio Caldas e Luís Barbosa. Em 1935, Carmen Miranda gravou com sucesso na Odeon o samba Fogueira do meu coração, parceria com A. L. Pimentel.

Em 1936, fez a marcha Volta pro teu ninho antigo que foi gravada por Aurora Miranda. Teve o samba Bombardeio da cidade gravado no mesmo ano pelo grupo vocal Quatro Diabos, na Victor.

Apesar de ter morrido prematuramente em 1950, em 1957 teve o samba Pela luz divina, parceria com Ataulfo Alves gravado por Ataulfo Alves em LP Sinter. Em 1960, teve o inédito samba-canção Palavra doce gravado pelo cantor Mário Reis no LP Mário Reis canta suas criações em Hi-Fi, lançado pela Odeon.

Em 1993, seus sambas Adeus vida de solteiro e Jamais... em tua vida foram relançadas pelo selo Revivendo no CD Gosto que me enrosco que reuniu gravações de Mário Reis e Luís Barbosa. No mesmo ano, o samba Sinto saudade foi relançado no CD Duplas de bambas - Mário Reis / Castro Barbosa / Francisco Alves e Jonjoca, do selo Revivendo.

Em 1996, teve duas composições relançadas: o samba Fogueira do meu coração, com A. L. Pimentel no CD Carmen Miranda, com gravações de Carmen Miranda, e o samba Pela Luz Divina, com Ataulfo Alves, no CD A você - Ataulfo Alves - vol. 2, do selo Revivendo. Sua marcha Fogueira do meu coração, com A. L. Pimentel, tornou-se por muito tempo um clássico do repertório das festas juninas.

Foi considerado um dos principais pianistas do samba carioca nas décadas de 1930 e 1940, cuja carreira interrompeu-se precocemente aos apenas 40 anos, deixando cerca de 15 composições gravadas.

Obra

Adeus vida de solteiro, Alô "Mossoró, Bombardeio da cidade, Cheio de saudade, Como é linda a lua (c/ Murilo Caldas), Dor de malandro, Fogueira do meu coração (c/ A. L. Pimentel), Jamais...em tua vida, Lá na montanha (c/ Lamartine Babo), Palavra doce, Para amar e não sofrer, Pela luz divina (c/ Ataulfo Alves), Sinto saudade, Volta pro teu ninho antigo, Vontade que volte (c/ Valdo Abreu).


Bibliografia Crítica: AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982; VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira. São Paulo: Martins, 1965; Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; CARIOCA, de 01/08/1936.

Osvaldo Borba

Osvaldo Borba (Oswaldo Neves Borba), regente, arranjador e pianista, nasceu em São Paulo, SP, em 18/07/1914. Começou a tocar piano aos cinco anos de idade. Em 1934 iniciou a carreira artística na Rádio Record. Em 1936 e 1937 fez longa excursão pelo país com a companhia de revistas de Jardel Jércolis. Atuou como regente da Orquestra da Rádio Tupi.

Fez a primeira gravação como regente de orquestra em 1945, na Continental registrando o choro Deslizando, de Morpheu Belluomini.

Depois passou a atuar na Odeon onde participou de diversas gravações acompanhando com sua orquestra diversos cantores e cantoras entre os quais, Sylvia Telles, Aurora Miranda, Joel de Almeida, Gregorio Barrios, Oscar Ferreira, Anísio Silva, Elza Soares, Orlando Dias, Dalva de Andrade, Lúcio Alves, Carlos Augusto, Mário ReisJoão Dias, Dalva de Oliveira e Hebe Camargo.

Atuou como pianista do Cassino Assyrio, do Copacabana Palace e do Cassino Atlântico com a orquestra de Ferreira Filho. Retornou depois para o Copacabana Palace com a orquestra Zacarias. Nos últimos anos da década de 1940 dirigiu a orquestra da Rádio Globo. Em 1949 fundou sua própria orquestra estreando em um baile no Clube Ginástico Português.

Em 1950, gravou o primeiro disco com sua orquestra pela Odeon registrando os frevos Dona boa, dos Irmãos Valença e Frevo do meio-dia, de Carnera. Em 1951, registrou entre outros títulos, os frevos De guarda-chuva na mão, de Geraldo Medeiros e Haroldo Lobo, com canto de Risadinha e Esbodegado, de Guio de Morais.

Em 1953, formou uma orquestra típica argentina com a qual gravou a marcha Saca rolha, de Zé da Zilda, Zilda do Zé e Waldir Machado, em ritmo de tango. Em 1956, gravou também pela Odeon, com sua Orquestra o Samba maravilhoso, de José Toledo e Jean Manzon e o baião Andorinha preta, de Breno Ferreira. No mesmo ano, gravou com uma orquestra típica Quem sabe, sabe, de Joel de Almeida e Carvalhinho em ritmo de tango e Vai que depois eu vou, de Adolfo Macedo,  Zé da Zilda e Airton Borges, também em ritmo de tango.

Em 1958, gravou, ainda na Odeon, uma série de três discos incluindo entre outras a marcha de bloco Relembrando o passado, de João Santiago e o samba Chega de saudade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Em 1959, gravou com sua orquestra os frevos Aguenta o cordão, de Levino Ferreira e Bombardeio, de Davi Vasconcelos.

Em 1960, gravou os frevos Batalha de serpentina, de Francisquinho e Clarins em folia, de Davi Vasconcelos.

Sua orquestra foi das mais requisitadas para festas de formatura nos anos de 1950 e 1960, chegando a fazer seis bailes em grandes salões a cada final de ano. Na primeira metade da década de 1960 passou a atuar com exclusividade na TV Record de São Paulo. Lançou entre outros, os elepês Baile de formatura, Osvaldo Borba em Hi-Fi e Metais em brasa no samba.

Discografia

Deslizando (1945) Continental 78
Dona boa / Frevo do meio-dia (1950) Odeon 78
Cumaná / Dr. Urubu (1951) Odeon 78
Tiro liro / Não há castigo (1951) Odeon 78
De gaurda-chuva na mão / Esbodegado (1951) Odeon 78
Barulho no salão (1953) Odeon 78
Jambalaya / El tarado (1953) Odeon 78
Saca-rolha / Melodia em fá (1954) Odeon 78
O mambo das normalistas / Jacaré (1954) Odeon 78
O baião do coqueiro (1955) Odeon 78
Quem sabe, sabe / Vai que depois eu vou (1956) Odeon 78
Samba maravilhoso / Andorinha preta (1956) Odeon 78
Alucinado / Relembrando o passado (1958) Odeon 78
Chegou sua vez / Batalha de confete (1958) Odeon 78
Lover / Chega de saudade (1958) Odeon 78
Aguenta o cordão / Convença-se (1959) Odeon 78
Bombardeio / Recordação de Lia (1959) Odeon 78
Batalha de serpentina / A vitória é nossa (1960) Odeon 78
Clarins em folia / Reminiscência (1960) Odeon 78
Baile de formatura (1961) Odeon LP
Osvaldo Borba em Hi-Fi (1962) Odeon LP
Metais em brasa no samba (1963) Philips LP


Bibliografia Crítica: AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982; CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965; Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; www.MusicaPopular.Org; CARIOCA, de 25/7/1936.

domingo, janeiro 19, 2014

As Pagãs cheias de juventude e charme


"Acabaram de ouvir as Irmãs Pagãs" ... — E logo o ouvinte dotado de imaginação, que nunca esteve em visita à PRA-9, pensa uma porção de coisas. Aparecem diante dele os quadros cinematográficos das ilhas dos Mares do Sul, cheias de "pequenas" morenas vestidas com uma tanga de palha e com uma coroa de flores na cabeça. Ao longe uma música dolente de guitarras tocadas por rapazes esbeltos e de alvos dentes completa a cena que o ouvinte imaginou ...

No entanto, os que conhecem os estúdios cariocas, sabem que o quadro é outro, embora tendo pontos de contato com aquele imaginado pelo ouvinte: as "Irmãs Pagãs" também são morenas. Queimadas não pelo sol do Havaí e sim pelo de Copacabana. Não usam, é verdade, tangas de palha, mas em compensação possuem uns maiôs que em nada ficam devendo às encantadas indumentárias das habitantes de Honolulu. As coroas de flores são substituídas pelos encantadores cabelos louros das duas, que, num maravilhado "negligè", formam quase coroas naturais.

Elvira Pagã
Mas, não está completo o quadro da realidade, que difere um pouco daquele imaginado pelo ouvinte. Faltam os rapazes bonitos, de alvos dentes, tocando guitarras. A ausência deles, para as Irmãs Pagãs, seria fatal se, por felicidade, não existissem substitutos à altura.

Eles existem e tem sobre os outros grandes a grande vantagem de usar gravata e se encontrarem organizados em "conjunto". Constituem o "Regional" da PRA-9.

Na realidade as Irmãs Pagãs não diferem muito da que imaginou o ouvinte. Embora civilizadas e usando vestidos compridos, cheios de botões e golas altas, sentem as duas garotas um imenso prazer no contexto com a Natureza.



As nossas praias imensas, cheias de ondas enormes e alvas areias, exercem sobre elas grande atração. As florestas onde se entrelaçam arbustos e árvores gigantescas são, dos seus passeios, os mais queridos. Conservam na Civilização em que vivemos um pouco do primitivismo que lhe empresta o nome. São "Pagãs", e, como tal, adoram a nossa Natureza Pagã, cheia de cores variadas e bonitas, no seu esplendor maravilhoso ...

Rosina Pagã
Elvira e Rosina não são do Havaí nem tampouco cariocas. Nasceram em São Paulo, numa cidadezinha que as revoluções se encarregaram de glorificar — Itararé. Estão, porém, habituadas ao nosso clima e à nossa vida e raramente lá vão.

A PRA-9 toma-lhes todo o tempo. Cantam à noite. Ensaiam de dia. Felizmente, porém, não raro elas são vistas na Cinelândia ou em Copacabana, pois seria muito triste que os fãs de rádio não pudessem ver, continuamente, aquelas duas figurinhas que enchem de alegria o estúdio da PRA-9. Mesmo porque as Irmãs Pagãs não são hoje apenas figuras de cidade.

Vão além. São símbolos: representando, na sua graça e jovialidade amável, não só o reflexo simpático de uma juventude vigorosa e cheia de esperanças, mas ainda constituem o símbolo vivo da cidade encantadora de onde são os principais ornamentos, cidade como elas queimada pelos raios solares e sempre disposta a entoar uma melodia bonita para a satisfação do público imenso de todo o Brasil ...


Fonte: CARIOCA, de 25/7/1936 (texto atualizado).