segunda-feira, abril 03, 2006

Abismo de rosas

Canhoto (primeiro da direita) com amigos.
O grande violonista Canhoto tinha apenas 16 anos quando compôs "Abismo de Rosas", em 1905. A composição era um desabafo a uma decepção amorosa, pois o autor acabara de ser abandonado pela namorada, filha de um escravo. Canhoto realizou três gravações desta valsa: a primeira, com o nome de "Acordes do Violão", lançada no disco Odeon número 121249, em meados de 1916; a segunda, já como "Abismo de Rosas", no disco Odeon 122932, em 1925; e, finalmente, a terceira no disco Odeon 10021- a que fazia parte do suplemento de agosto de 1927, um dos primeiros da era da gravação elétrica no Brasil.

Ressalta nesta terceira gravação seu vibrato característico e inigualável, que ele tirava de um violão de corpo mais fino com braço não muito rígido. Peça obrigatória no repertório de nossos violonistas - de Dilermando Reis a Baden Powell -, "Abismo de Rosas" é considerada o hino nacional do violão brasileiro pelo professor Ronoel Simões, uma autoridade no assunto.

Abismo de rosas (valsa, 1925) - Canhoto / Letra de João do Sul - Interpretação: Canhoto

Disco 78 rpm / Título da música: Abismo de Rosas / Américo Jacomino "Canhoto", 1889-1928 (Compositor) / Américo Jacomino "Canhoto" [Violão] (Intérprete) / Gravadora Odeon / Nº do Álbum: 10021-a / Nº da Matriz: 1230 / Lançamento: 1927 / Gênero: Valsa / Coleções: IMS, Nirez



Ao amor em vão fugir / Procurei / Pois tu
Breve me fizeste ouvir / Tua voz, mentira deliciosa
E hoje é meu ideal / Um abismo de rosas
Onde a sonhar / Eu devo, enfim, sofrer e amar !

Mas hoje que importa / Se tu'alma é fria
Meu coração se conforta / Na tua própria agonia
Se há no meu rosto / Um rir de ventura
Que importa / o mudo desgosto
De minha dor assim, / Sem fim

Se minha esperança / O que não se alcança
Sonhou buscar / Devo calar
Hoje, meu sofrer / E jamais dele te dizer
O amor se é puro / Suporta obscuro
Quase a sorrir / A dor de ver,
A mais linda ilusão morrer.

Humilde, bem vês que vou,/ A teus pés levar,
Meu coração que jurou,/ Sempre ser, amigo e dedicado,
Tenha, embora, que viver, / Neste sonho enganado,
Jamais direi, / Que assim vivi, porque te amei !


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

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