Rua Direita - Rio de Janeiro (RJ) - Segunda metade do século XIX |
Com vinte e pouco anos, chegava ao Brasil, na década de 1830, Rafael Coelho Machado, português do arquipélago dos Açores, compositor e professor, que teria participação de destaque no meio musical, desenvolvendo intensa atividade. Diante da escassez de obras didáticas de música, passou a traduzir vários métodos para os instrumentos mais em voga na época: Hünten (piano), Devienne (flauta), Alard (violino), Carcassi (guitarra).
Em 1842 publicou o primeiro Dicionário musical em português (Tipografia Francesa), com uma segunda edição aumentada em 1855 (Tipografia Brito e Braga), e no ano seguinte o Método de afinar piano. Em 1851 um Tratado d’harmonia e logo a seguir o ABC musical tornaram-se muito populares, com inúmeras edições. Em 1847 era dono de um depósito de pianos, com oficina, afinador etc., na Rua da Ajuda, 16, e no sobrado n 25, anteriormente ocupado por H. Vaguer Frion.
De 1849 a 1853, instalou-se na Rua dos Ourives, 43, com a firma Rafael & Cia., sucursal de Schmidt, na loja que havia pertencido ao antigo e conhecido fabricante de pianos na corte e que entre 1835 e 1838 funcionava na Rua do Ouvidor, 162. Foram publicadas, entre outras, as coleções Bouquet dos pianistas, Saudades da Norma, Recordações italianas e Álbum de canto.
Em 1854, associou-se a H. Vaguer Frion, estabelecido na Rua dos Ourives, 61, mas a sociedade (Frion e Rafael) se desfez dois anos depois, com a saída de Rafael. Em outubro de 1856, abriu o Novo Depósito de Música e Pianos, na Rua da Quitanda, 43, onde ficou até 1867.
Em 1869, Narciso José Pinto Braga arrematou seu acervo, a essa época instalado na Rua do Ouvidor, 33. Na fase final, publicou ainda Ilustração dos pianistas, Bouquet dos bailes, Grinalda brasílica — álbum de modinhas com poesias de Gonçalves Dias e outros (1859), Urânia ou Os amores de um poeta — álbum com poesias de Gonçalves de Magalhães (1863), e Periódico de Música Marcial (1865). A Rafael Coelho Machado deve-se ainda a publicação da primeira ópera de Carlos Gomes, A noite do castelo, em reduções de sua autoria, para canto-piano e piano só.
Honório Vaguer Frion foi representante de pianos ingleses, com loja e oficina de consertos no sobrado da Rua do Cano, 54, e a partir de 1848, na Rua dos Ourives, 61. Depois de desfeita a sociedade com Rafael Coelho Machado, em 1857 embarcou para a Europa, para tratar dos interesses da firma, deixando como responsável Auguste Baguet, conhecido diretor de orquestra de dança e compositor de música ligeira, que já tivera loja de música na Rua do Cano, 146 (1844- 1856).
Com a volta de Frion em 1859, Baguet foi despedido da firma e abriu por conta própria, na Rua da Ajuda, 6 (1861-1878), uma Imprensa Musical dos Artistas, com o repertório de famosa casa de espetáculos da Rua da Vala, Alcázar Lírico. A loja da Rua dos Ourives passou depois para Maximiliano von Sydow, professor de piano. Em 1869, Sydow & Cia., suc. de H. V. Frion, mudaram-se para a Rua da Ajuda, 42, continuando a publicar entre outros, Pérolas e diamantes (1859), Álbum de modinhas (1867) etc.
Bento Fernandes das Mercês, conhecido copista e cantor da Capela Imperial, foi professor e diretor de um conservatório de música, tendo sido responsável pela preservação de parte do patrimônio musical legado pelo padre José Maurício Nunes Garcia, de quem foi um dos mais assíduos copistas e colecionador de obras.
Desde 1848, vendia música em sua residência, na Praça da Constituição, 15, “em frente ao Teatro”, e em 1852 instalou-se no na 19 da mesma praça, com a firma Mercês & Cia. — Impressores de Música e Editores. Nesse mesmo ano publicou o romance de João Vítor Ribas Guanabara e associou- se a Salmon, mudando-se para a Rua da Assembléia, 86, com o nome de Imprensa Salmon & Cia. e Copistaria de Música, de curta duração, pois logo em 1853 a firma passou a Salmon & Cia. Sucessores de P. Laforge, na Rua dos Ourives, 60.
Teotônio Borges Dinis, cantor da Capela Imperial, com copistaria instalada, em 1854, na Rua de São José, 42, mudou-se para a Praça da Constituição, 34 (depois para o na 11), onde continuou imprimindo música até 1858, tendo publicado As flores da primavera (1854- 1855), Nova coleção de valsas, polcas e schottischs e Aurora das pianistas (ambas de 1855), Divertimento noturno (1856), Lira do trovador (1856-1857), da qual saíram mais de 70 peças, com frontispício em belo trabalho litográfico, Ilustração musical (1857-1858) e outras.
Em 1858 a loja passou para os sucessores de T. B. Dinis, com o nome de Imperial Estabelecimento de João Pereira da Silva, que a manteve até 1862, quando José Maria Alves da Rocha a adquiriu, formando com um sócio a firma Rocha & Correia, que durou apenas um ano. Rocha continuou os negócios sozinho de 1865 a 1868, sempre no mesmo endereço, e formou nova sociedade em 1869, Rocha & Othon Frederico.
Todas as peças impressas por T. B. Dinis levavam número de chapa (T.B.D. ...) e muitas delas eram datadas, o que era novo na época. J. M. Alves da Rocha continuou a numeração, apenas retirando as iniciais. Entre as coleções publicadas figuram Lira brasileira (1863-1864), Folhas e flores e Flores do baile.
Em 1853, Severino, Magallar & Banchieri instalaram-se na Rua do Ouvidor, 116, antiga Casa Luraghi, que funcionara nesse endereço desde 1843, com comércio de música. A nova firma especializou-se em instrumentos de música para banda e orquestra, bem como instrumentos de óptica, física e matemática. Em 1855 Banchieri saiu da firma, ficando Severino & Magallar.
Nessa época, iniciaram a publicação de uma coleção de escalas e vários métodos para instrumentos de sopro: Niessel (cometa e pistões), Schiltz (saxhorne) e ainda outro para oficlide, todos em tradução e impressão da casa, com chapas numeradas (S.& M. ...). Alexandre Magailar era professor de trompa, trompete e trombone, e com sua morte em 1857 a firma passou a se chamar Severino e Sousa, em 1863 Moreira e Severino e de 1864 a 1869 João de Sousa Moreira.
Na loja de Salmon & Cia., na Rua dos Ourives, 60, João Jacques Soland de Chirol, “professor do Conservatório de Paris”, dava aulas de piano desde 1853. Em 1857 já possuía loja com sobrado na Rua do Ouvidor, 92, e em 1860 iniciou a publicação da Gazeta Musical do Brasil — jornal científico, crítico e literário, com correspondentes do Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco. Segundo anúncios publicados no Jornal do Comércio, saia aos domingos e vendia-se a princípio em sua Loja de Música e Piano Depósito Geral da França e da Itália, na Rua da Ajuda, 16, e depois na Praça da Constituição, 58, para onde se mudou em setembro do mesmo ano.
Além da parte musical, com peças para piano e para canto — transcrições de trechos de óperas, música de dança etc. — cada número vinha acompanhado de noticiário e crítica sobre o movimento musical na Europa, incluindo comentários sobre a vida musical no Rio de Janeiro, as companhias líricas atuantes e, na edição de 29 de julho de 1860, uma biografia do padre José Maurício Nunes Garcia, seguida, em outro número, de uma notícia sobre Carlos Gomes. Em 1862 a loja passou para Lagos & Cia., no mesmo endereço, e J. C. Meireles, de 1864 a 1869, quando Narciso José Pinto Braga adquiriu o acervo.
Januário da Silva Arvelos, “filho de um dos mais célebres compositores de música, mestre de S.M. o Sr. D. Pedro I”, como ele freqüentemente se intitulava em anúncios publicados nos jornais, tinha o mesmo nome do pai, compositor de grande prestígio no tempo de D. João. Arvelos (filho), nascido em 1836, foi compositor de música de salão, com vasto repertório de modinhas e lundus. Dedicou-se também ao magistério e em 1859 publicou um Novo método repentino dos primeiros elementos musicais.
Em princípios da década de 1860, na Rua da Assembléia, 1258, começou a imprimir música, inclusive suas próprias composições. Foram publicadas, entre outras, as coleções Conselheiro das damas (1 série — 1861-1862, 2 série — 1869), especializada em modinhas brasileiras e música de salão, Recreio das famílias, A ninfa do Amazonas (1865-1866) e As flores da Pátria (1869), quando encerrou suas atividades como editor de música, vendendo o acervo para Narciso José Pinto Braga.
Victor Préalle, estabelecido de 1851 a 1859 com oficina de consertar e afinar pianos na Rua de São José, 21, em 1860 abriu loja na Rua da Ajuda, 6, que passou a ser ocupada no ano seguinte por Auguste Baguet. De 1861 a 1870, em seu novo endereço na Rua do teatro, 17, Préalle publicou peças com chapas numeradas (V.P. ...). Em 1871 seguiu para Recife, onde abriu loja no mesmo ramo, deixando no Rio de Janeiro Henri Préalle, que o substituiu na loja, estendendo o negócio também ao n. 15 da mesma rua (de 1878 a 1887) e continuando a numeração do antecessor com suas iniciais (H.R ...) ultrapassou uma centena de peças publicadas, muitas de autores brasileiros.
Tiago Henrique Canongia, com duas gerações de antepassados músicos (pai português e avô catalão), foi professor de música e diretor de orquestra de salão. Em 1866 inaugurou uma loja de pianos e música, Lira d’Apoio, na Rua do Ouvidor, 111, “com distribuição da polca do mesmo nome no recém-aberto estabelecimento”. Publicou mais de 400 peças, com chapas numeradas.
Com a morte de Canongia, a firma em 1872 passou para a Viúva Canongia & Cia. — Estabelecimento de Músicas, Águas Minerais, Roupas etc., no mesmo endereço. Em 1877 transferiu-se para o n 103 da mesma rua e em 1881 passava a Viúva Canongia & Filho. Até 1872 publicou Éden musical, Novo álbum de piano e canto e Estrelas de ouro. Pela Viúva Canongia, foram editadas Flores brasileiras, Álbum de música de piano, Coleção de tangos e havaneras etc. Henrique Alves de Mesquita, Joaquim Antônio da Silva Callado, Manuel Joaquim Maria, Aníbal Napoleão e Chiquinha Gonzaga foram alguns dos compositores com obras publicadas.
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