Rua do Ouvidor - Rio de Janeiro - Foto de 1890. |
Pedro Guigon, professor e fabricante de órgãos, instalado desde 1837, quando chegou ao Rio de Janeiro, vindo da França, com oficina na Rua da Ajuda, abriu loja em 1849 na Rua São José, 62, onde ficou até morrer em 1862. A viúva Guigon continuou com a loja na mesma rua, 62-64, e iniciou publicação de músicas com chapas numeradas (V.G. ...), passando, no ano seguinte, a firma para seu filho Frederico Guigon. Continuaram a publicar música (F.G.&Cia. ...), em pequena escala, e em 1880 mudaram-se para a Rua dos Ourives, 9, onde ficaram até 1889.
Com a morte de Frederico, a firma entrou em liquidação em 1901, sob a gerência dos dois filhos: Frederico Júnior e Augusto. Em 1904 abriram nova sociedade, A. Guigon & Cia. ED., na Rua Sete de Setembro, 141, como sucessores de Frederico Guigon, e reiniciaram a publicação de músicas de salão. Com a morte da viúva de Frederico, em 1906, Augusto associou-se a Carlos do Nascimento e Silva, mudando-se para o n2 106 da mesma rua. Até 1909 tinham publicado uma centena de peças. A firma passou à propriedade de Castro Lima & Cia. — Casa Guigon, n. 134 da mesma rua, onde permaneceu cerca de dez anos, tendo publicado mais de 300 peças.
Eduardo e Francisco Buschmann, afinadores de piano, anunciando desde 1869 no Jornal do Comércio e no Almanaque Laemmert, em 1873 abriram loja de pianos e oficina de consertos na Rua dos Ourives. Em 1881, Manuel Antônio Gomes Guimarães, que também possuia, já há alguns anos, loja de música, a eles se associou, formando a firma Buschmann & Guimarães, estabelecida na Rua dos Ourives, 52.
Iniciaram a publicação de músicas com chapas numeradas, que atingiam mais de 3.500 quando a firma passou, por volta de 1897, para Buschmann, Guimarães & Irmão. Entre as obras, predominavam a música de salão e o teatro musicado, de compositores brasileiros como Henrique Alves de Mesquita, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Cardoso de Menezes, Júlio Reis, Anacleto de Medeiros, Paulino Sacramento, Aurélio Cavalcanti, Leocádio Rayol, J. Garcia Cristo, Costa Júnior, Assis Pacheco, Nicolino Milano etc.
Foram publicadas diversas coleções, entre as quais Divertimento musical, Proezas musicais, Recreio dos salões, Flores do baile, Aurora dos pianistas, Pérolas dos salões, Arpejos da saudade, Noites alegres, Novidades musicais e Sucesso dos salões. No início do século, Manuel Antônio Gomes Guimarães tomou conta da firma, como sucessor de Buschmann, Guimarães & Irmão, sempre na Rua dos Ourives, 50-52. Mais tarde, transferiu-se para a Travessa do Ouvidor, 25, e Rua dos Ourives (hoje Rua Rodrigo Silva), 10, até cerca de 1916, quando encerrou as atividades, tendo publicado mais de 5.500 peças numeradas.
Fontes & Cia. Novo Empório Musical imprimiam música em 1891, na Rua dos Ourives, 51. Em 1893, passaram para Vieira Machado & Cia., editora que publicou quase exclusivamente música brasileira. Além dos compositores mencionados anteriormente, é responsável por toda a obra impressa de Glauco Velásquez. Em 1908 estavam na Rua do Ouvidor, 147, e em 1911 no n. 179 da mesma rua. Até 1922, suas edições com chapas numeradas (V.M.&Cia. ...) chegavam a cerca de 1.800, muitas delas datadas.
Guilherme Fontainha, professor de piano, assumiu a direção da casa de 1925 a 1926, recomeçando a numeração das chapas, que não chegaram à segunda centena. No ano seguinte, a casa era propriedade de Fortunato Alves Pereira, que continuou a numeração de Fontainha, usando suas iniciais (F.A.P. ...) e não ultrapassando 800 peças.
Hekel Tavares, J. Otaviano, Assis Republicano, Cardoso de Meneses foram alguns dos compositores com obras aí publicadas, incluindo-se ainda primeiras composições de Heitor Villa-Lobos e muita música popular. Sebastião Lima & Cia. Compraram a firma por volta de 1934, mas pouco fizeram, e o Catálogo das Ed. Vieira Machado e suc. passou à propriedade de Ernesto Augusto de Matos que, mediante contrato, mantém os Irmãos Vitale como editores autorizados.
Alfredo Fertin de Vasconcelos publicou com Inácio Francisco de Araújo Porto Alegre, na última década do século passado (1891-1893), uma Gazeta Musical, com artigos sobre teoria da música, história, biografias e noticiário musical. Com loja na Rua do Carmo, 25, A. Fertin de Vasconcelos & Cia. iniciaram a impressão de música em oficina própria, com uma coleção intitulada Terpsícore. Fertin de Vasconcelos & Morand, na Rua da Quitanda, 42, continuaram publicando música de salão com chapas numeradas (E ... M.), chegando a quase 400 peças. Mudaram-se depois para a Rua do Ouvidor, 147, onde ainda funcionavam no início do século XX.
Lino José Barbosa estabeleceu-se em 1905 com uma Secção Mozart na Rua do Ouvidor, 97, publicando músicas com chapas numeradas (L.J.B. ...). No mesmo ano mudou-se para o n. 127 da Avenida Central, já como Casa Mozart. Publicou, principalmente nas duas primeiras décadas deste século, obras de Ernesto Nazareth, J. Garcia Cristo, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Paulino Sacramento e outros. Teve loja funcionando até a década de 1940, na Rua Sete de Setembro, mas só para venda de músicas.
Carlos do Nascimento e Silva, que estivera associado a Augusto Guigon até 1909, abriu, nesse mesmo ano, loja própria na Rua do Ouvidor, 175, com o nome Casa Beethoven — Nascimento Silva & Cia. Publicaram principalmente música popular, com chapas numeradas (N.S.&Cia. ...) chegando a pouco mais de 200 peças, por volta de 1920. Em 1912 tinham publicado Catálogo de músicas para pianolas e pianos-pianola.
Em 1899 os irmãos Cristiano Carlos João Wehrs e Cristiano Guilherme Augusto Wehrs assumiram a direção da casa, que, de modesta oficina de João Schlegel, em 1851, desenvolvida por seu pai, Cristiano Carlos Frederico Wehrs, na então Rua do Cano, 217, se transformara em importante fábrica de pianos do pais. Em 1879, haviam-se transferido para o n. 175 da mesma rua. Criada a Casa Editora Brasileira Carlos Wehrs nos primeiros anos deste século, na década de 1910 já estava só com um dos irmãos C. Carlos J. Wehrs (antiga Casa Ed. Brasileira C. Wehrs) — tendo-se mudado para a Rua da Carioca, 47. As peças já atingiam mais de mil, numeradas (C. ... W.), quando, em 1925, admitiram como sócio Gustavo Eulestein e como interessado na firma o filho Carlos H. F. Wehrs, passando a Carlos Wehrs & Cia. Iniciaram publicando quase que só música de salão brasileira e, mais tarde, publicaram obras de Luciano Gallet, Barroso Neto (responsável pela coleção didática Ed. Euterpe), Francisco Braga, Alberto Nepomuceno e Francisco Mignone entre outros, tendo publicado muito material didático.
José Francisco de Freitas (Freitinhas) foi pianista oficial da casa, como era hábito na época, incumbido de executar as músicas a serem escolhidas pelos clientes, tendo também muitas de suas obras impressas pela editora, bem como Ary Barroso, Lamartine Babo e outros. Passaram a editores exclusivos da Casa Carlos Gomes, quando já tinham impressas mais de 5.000 peças, e acabaram transformando-a em filial da Casa Carlos Wehrs, na Rua do Ouvidor, 153. Publicaram pelo menos dois Catálogos com o acervo da editora e uma revista de vida e cultura musical — Weco (de novembro de 1928 a abril de 1931), tendo por diretor artístico Luciano Gallet, secretários Djalma de Vicenzi e Arnaldo Estrela, e colaboração de Mário de Andrade, Luis Heitor e o próprio Gallet, em artigos sobre história, pedagogia e folclore, além de amplo noticiário dobre a vida musical. Em 1932 passaram a Ed. Carlos Wehrs & Cia. até 1975, quando fecharam a loja.
Em 1920 Eduardo Souto, conhecido compositor de música popular, abria a Casa Carlos Gomes — Eduardo Souto & Cia. Na Rua Gonçalves Dias, 75. Imprimiram de início quase que exclusivamente obras do proprietário da casa, com chapas numeradas (E.S ), abrangendo depois outros compositores de música de salão. Em 1922 mudaram-se para a Rua do Ouvidor, 153, e no final dessa mesma década passaram a filial da Casa Carlos Wehrs.
A Casa Viúva Guerreiro, pertencente à compositora Serafina Mourão do Vale, desde 1920 publicava música, imprimindo grande número de peças da proprietária da casa e muita música de dança, mantendo-se durante quase trinta anos no mesmo endereço, na Rua Sete de Setembro, 169.
Secção Chopin, estabelecimento que funcionava na mesma rua da casa Viúva Guerreiro, mas no nr. 141, era propriedade da firma Faria & Pinheiro e publicou músicas de dança a partir de 1914, em edições numeradas (F.P. ...). Em 1915 Manuel de Faria ficou sozinho na firma e continuou imprimindo, iniciando nova numeração (M.F. ...). No final da década de 1920, a casa foi comprada por Porfírio Martins, proprietário, desde 1903, da loja A Guitarra de Prata, na Rua da Carioca, 37. Especialista no fabrico de instrumentos de corda, ramo em que se mantém até hoje, iniciara também publicação de músicas em 1918, com edições numeradas (P.M. ...). Publicou vários métodos para violão, bandolim, cavaquinho etc., e alguma música de dança.
Duas outras editoras merecem ainda menção, embora não se dediquem exclusivamente à música, a Editora Vozes Ltda., de Petrópolis, que publicou de 1910 a 1957 muita música sacra, predominando as obras de frei Pedro Sinzig e frei Basílio Röwer, ambos religiosos franciscanos, responsáveis pela redação da revista Música Sacra (1941 a 1959), durante muitos anos a única revista musical publicada no país. Acompanhava cada número um Suplemento Musical, com obras (muitos arranjos) para coro e para órgão. A Casa Publicadora Batista, desde 1931 até nossos dias, vem publicando muita música religiosa, álbuns de cânticos etc.
A impressão de música nos outros Estados só apareceu nas últimas décadas do século XIX, e apenas em alguns deles: São Paulo, Pará, Pernambuco e Bahia. Em outros só se iniciou no século XX, dependendo das oficinas gráficas de São Paulo e do Rio de Janeiro para impressão das peças. Muitas vezes eram enviadas para serem impressas por editores franceses e alemães, principalmente os do grande centro tipográfico de Leipzig, Alemanha, que tanto imprimiu para o Estado do Pará, prática, aliás, também adotada, embora esporadicamente, por algumas editoras do Rio de Janeiro.
Em meados do século XX, já entravam em declínio as atividades das editoras nos Estados, com exceção de São Paulo, onde se deu o inverso, transformando-se em centro impressor para todo o país, inclusive para o Rio de Janeiro, onde progressivamente se vem processando um esvaziamento do parque gráfico de música.
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