segunda-feira, abril 17, 2006

Bye bye Brasil

Cena do filme Bye bye, Brasil de 1979
Os casais Cacá Diegues/Nara e Roberto Menescal/Iara foram vizinhos durante anos em um prédio de apartamentos em Ipanema, tendo Cacá, num encontro cotidiano, proposto a Menescal que compusesse a trilha musical de seu filme “Bye Bye, Brasil”, sugerindo Chico Buarque como letrista. Juntos pela primeira vez numa parceria e indecisos sobre quem faria antes a sua parte, Chico e Menescal acabariam concordando que qualquer um poderia começar, a partir do momento em que tivesse uma boa idéia.

Um dia, voltando de São Paulo pela ponte aérea, o violonista teve de repente “a boa idéia”, uma melodia inspirada pelo próprio título do filme. O curioso é que a inspiração surgiu quando ele aguardava, sentado numa poltrona do avião, espremido entre dois sujeitos enormes, que fosse resolvido um problema para a decolagem. Anotada a frase inicial numa pauta improvisada e concluída a melodia um dia depois, Menescal entregou-a a Chico e ficou esperando a letra. Só que o poeta demorou tanto, que chegou o dia da gravação sem que ele a tivesse aprontado. Finalmente, na hora da mixagem, com o tema principal gravado no seu tom, Chico entrou no estúdio trazendo uma imensa tira de papel, com uma letra maior do que se poderia desejar... Mas Cacá logo resolveu a parada da maneira mais prática. Leu os versos até certo ponto e decretou: “tá bom até aqui”, cortando o resto com uma tesoura.

Assim foi gravada por Chico Buarque a excelente canção “Bye Bye, Brasil”, bem vinculada ao enredo do filme, com um personagem narrando num telefone público suas aventuras ambulantes para a namorada: “Oi, coração / não vai dar pra falar muito não / espera passar o avião / assim que o inverno passar / eu vou te buscar / aqui tá fazendo calor / deu pane no ventilador / já tem fliperama em Macau...”

Foi desta gravação que se originou o compacto duplo do filme de grande sucesso. Depois, Chico fez nova gravação com outro arranjo de Menescal para o elepê, enquanto o músico a gravava em versão instrumental para o seu disco Ditos e feitos. Existem ainda outras versões de destaque como a do Grupo Pau Brasil e a de Zé Roberto Bertrami, com Hélio Delmiro, premiada pela revista Playboy.

Meses mais tarde, Menescal viveria uma experiência pitoresca em Cabo Frio. Tocando numa reunião de amigos, foi interpelado por uma garota: “Você sabe aquela música do Chico Buarque, ‘Bye Bye, Brasil’? Ah, toca pra gente cantar...” Então, com sua calma habitual, o autor ignorado tocou sua música, por sinal uma das mais difíceis de sua obra. Que o digam os que se atrevem a gravá-la, pois enquanto a melodia tem diferenças sutis, às vezes apenas uma notinha entre-frases aparentemente iguais, a harmonia é uma sugestiva sucessão de acordes ao improviso (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Bye bye, Brasil (1979) - Chico Buarque e Roberto Menescal


Em 
Oi, coração
             A4/7      A7 
Não dá pra falar muito não
         D7+ 
Espera passar o avião
              F#m7 
Assim que o inverno passar
B7/9-             Em 
Eu acho que vou te buscar
          A4/7 
Aqui tá fazendo calor
A7            Am 
Deu pane no ventilador
            C/D 
Já tem fliperama em Macau
           G7+               F#7 
Tomei a costeira em Belém do Pará
  B7+                G#m7 
Puseram uma usina no mar
   Am                    C/D 
Talvez fique ruim pra pescar
    F#m7 B7/9- 
Meu amor

Em 
No Tocantins
            A4/7        A7 
o chefe dos Parintintins
            D7+ 
vidrou na minha calça Lee
            F#m7 
Eu vi uns patins prá você
B7/9-            Em 
Eu vi um Brasil na tevê
           A4/7 
Capaz de cair um toró
A7            Am 
Estou me sentindo tão só
C/D             G#7+ 
Oh! tenha dó de mim
   G7+              C7/9 
Pintou uma chance legal
   F#m7            Bm7 
Um lance lá na capital
    G#m7            C#7 
Nem tem que ter ginasial
     F#7+  B7/9- 
Meu amor

Em 
No Tabaris
            A4/7           A7 
o som é que nem os Bee Gees
               D7+ 
Dancei com uma dona infeliz
            F#m7 
Que tem um tufão nos quadris
B7/9-            Em 
Tem um japonês atrás de mim
              A4/7 
Eu vou dar um pulo em Manaus
A7            Am 
Aqui tá quarenta e dois graus
            C/D 
O sol nunca mais vai se pôr
            G7+               F#7 
Eu tenho saudades da nossa canção
   B7+                G#m7 
Saudades de roça e sertão
    Am                 C/D 
Bom mesmo é ter um caminhão
     F#m7 B7/9- 
Meu amor

Em 
Baby bye, bye
           A4/7       A7 
Abraços na mãe e no pai
            D7+ 
Eu acho que vou desligar
             F#m7 
As fichas já vão terminar
B7/9-             Em 
Eu vou me mandar de trenó
           A4/7         A7 
Pra Rua do Sol, Maceió
             Am 
Peguei uma doença em Ilhéus
C/D                G#7+ 
Mas já estou quase bom
 G7+               C7/9 
Em março vou pro Ceará
    F#m7              Bm7 
Com a bênção do meu Orixá
 G#m7               C#7 
Eu acho bauxita por lá
     F#7+  B7/9- 
Meu amor
Em 
Bye,bye Brasil
        A4/7     A7 
A última ficha caiu
              D7+ 
Eu penso em vocês night and day
            F#m7 
Explica que tá tudo ok
B7/9-           Em 
Eu só ando dentro da Lei
            A4/7          A7 
Eu quero voltar podes crer
            D7+ 
Eu vi um Brasil na TV
             F#m7 
Peguei uma doença em Belém
B7/9-         Em 
Agora já tá tudo bem
          A4/7           A7
Mas a ligação está no fim
           D7+ 
Tem um japonês atrás de mim
           F#m7 
Aquela aquarela mudou
B7/9-             Em 
Na estrada peguei uma cor
           A4/7      A7
Capaz de cair um toró
            D7+
Estou me sentindo um jiló
           F#m7 
Eu tenho tesão é no mar
B7/9-              Em 
Assim que o inverno passar
             A4/7        A7 
Bateu uma saudade de ti
                   D7+ 
Estou a fim de encarar um siri
                F#m7 
Com a bênção do Nosso Senhor
B7/9-            Em 
O sol nunca mais vai se pôr

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