quinta-feira, março 30, 2006

Francisco Alves


Francisco de Moraes Alves nasceu em 19 de agosto de 1898, no Rio de Janeiro, na rua Conselheiro Saraiva, centro, sendo filho de José e Isabel, portugueses. Seu José, dono de botequim, falecido em 1919, não faria fortuna. Teve três irmãs: Ângela, a mais velha, Lina e Carolina. Lina, com o nome artístico de Nair Alves, seria conhecida atriz de revista e radioatriz. José, seu único irmão, possuía bonita voz, mas veio a falecer com apenas 18 anos, em 1918, durante a gripe espanhola.

Cursou apenas a escola primária e desde cedo interessou-se pela música. Da irmã Nair ganhou uma guitarra e as primeiras lições. Começou sua carreira de cantor em abril de 1918, na Companhia de João de Deus-Martins Chaves. Depois ingressou na Companhia de Teatro São José, do empresário José Segreto.

Em 1919, para o Carnaval de 1920, levado por Sinhô, gravou na etiqueta Popular (recém-fundada por Paulo Lacombe e João Batista Gonzaga, suposto filho de Chiquinha Gonzaga) dois discos com a marcha O pé de anjo e os sambas Fala meu louro e Alivia estes olhos, todas de Sinhô. Ganhava a vida como motorista de praça, apresentando-se como cantor-ator secundário de revistas musicais. Casou-se em 1920 com Perpétua Guerra Tutóia, de quem logo se separou. No mesmo ano conheceu a atriz-cantora Célia Zenatti, sua companheira por 28 anos.

Em 1924 gravou para o Carnaval dois discos na Odeon, com o samba Miúdo (Sebastião Santos Neves) e as marchas Não me passo pra você e Mlle. Cinéma (ambas de Freire Júnior). Voltou em 1927 à Odeon na qual rapidamente gravou 11 discos com 19 músicas ainda no sistema mecânico, com destaque para Cassino Maxixe (primeira versão de Gosto que me Enrosco) e Ora vejam só, sambas de Sinhô.

Em julho de 1927, quando a Odeon inaugurou no Brasil o sistema elétrico de gravações, foi o intérprete da marcha Albertina e do samba Passarinho do má (ambas de Duque), as duas faces do primeiro disco produzido eletricamente, o Odeon 10.001. Em 1928 passou a gravar concomitantemente na Parlophon, subsidiária da Odeon, utilizando o apelido de Chico Viola.

Em fevereiro de 1929 fez sua estreia no rádio, apresentando-se na Rádio Sociedade. Seus discos começaram a sair em profusão e sem tardar alcançou o topo do qual jamais saiu até falecer. Só em 1928 e 1929 gravou quase 300 músicas de reconhecida qualidade. Interpretou todos os gêneros e foi quem mais gravou em toda a história dos discos de 78 rpm no Brasil: 526 discos com 983 músicas. Como compositor deixou cerca de 132 músicas, sendo seu forte a melodia.

Em 1928 fez na Parlophon o primeiro registro da canção A voz do violão, melodia sua e versos de Horácio Campos, grande sucesso, tanto que a regravou em 1929, 1939 e 1951. Nesse ano também lançou de Sinhô os sambas A favela vai abaixo, Ora vejam só (segunda matriz) e Não quero saber mais dela, em dueto com Rosa Negra, e de Pixinguinha com letras de Cícero de Almeida os sambas Festa de branco e Samba de nego, bem como a modinha Malandrinha, de Freire Júnior, e a canção Lua nova, sua e de Luís Iglésias. Nos anos de 1929 e 1930, de campanha presidencial, foi quem mais gravou canções de conteúdo político, como em 1929, o samba É sim senhor e a marcha Seu Doutor (ambos de Eduardo Souto), a marcha Seu Julinho vem (Freire Júnior), e, em dueto com Araci Cortes, o samba É no toco da goiaba (Eduardo Souto e José Jannyni).

No Carnaval de 1930 obteve notável êxito com a marcha Dá nela (Ary Barroso). Outro sucesso memorável foi sua gravação do Hino a João Pessoa (Eduardo Souto e Osvaldo Santiago), antes da revolução de outubro desse ano, durante o qual também excursionou pela primeira vez ao exterior, apresentando-se em Buenos Aires, Argentina, com a companhia de revistas musicais de Jardel Jércolis.

Na volta a Odeon reuniu-o a Mário Reis, por sugestão sua, para cantarem em dupla, estreando com os sambas Deixa essa mulher chorar (Brancura) e Quá, quá, quá (Lauro dos Santos), êxitos no Carnaval de 1931. A dupla durou até o final de 1932 e deixou 12 discos com 24 gravações importantes, entre as quais o samba Se você jurar (1931), com Ismael Silva e Nílton Bastos, Marchinha do amor (1932), de Lamartine Babo, a marcha Formosa (Carnaval de 1933), de Nássara e J. Rui, e Fita amarela (Carnaval de 1933), de Noel Rosa.

Em 1931 gravou entre outros sucessos a versão da valsa Dançando com lágrimas nos olhos (Joe Burke e Lamartine Babo), a modinha Deusa (Freire Júnior) e o samba Mulher de malandro (Heitor dos Prazeres), no Carnaval de 1932, primeiro prêmio no primeiro concurso oficial de músicas carnavalescas. Ainda nesse ano lançou o samba Gandaia (seu com Ismael Silva) e Para me livrar do mal (Ismael e Noel Rosa) e começou sua parceria com Orestes Barbosa, apenas letrista, com a canção Meu companheiro, que produziu 14 composições até 1934.

Em 1933 gravou de Noel Rosa os sambas Fita amarela, já referido, Pra esquecer, Feitio de oração (c/Vadico) em dueto com Castro Barbosa, Não tem tradução, entre outros, bem como a marcha junina Cai, cai, balão (Assis Valente), com Aurora Miranda em sua estréia no disco, a rumba Garimpeiro do Rio das Garças (João de Barro), a canção Pálida morena (Freire Júnior). Nesse ano, o locutor César Ladeira deu-Ihe o slogan de Rei da Voz.

Em 1934 transferiu-se para a RCA Victor, na qual ficou até 1937. Passou a dirigir um programa na Rádio Cajuti, nele lançando o cantor Orlando Silva, que se tornaria seu grande rival junto ao público. Ainda em 1934 gravou a valsa A mulher que ficou na taça (sua com Orestes) e fez aquele que seria seu único disco com Carmen Miranda, com a marcha Retiro da saudade (Noel Rosa e Nássara). Tinha se iniciado de certa forma no cinema em Voz do Carnaval (1933), de Ademar Gonzaga, no qual foi aproveitada apenas sua voz tirada de discos.

Em 1935 estréia de fato na tela em Alô, alô Brasil, de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, a que se seguiriam os filmes Alô, alô Carnaval, de Ademar Gonzaga (1936), Laranja da China (1940), de J. Rui, e Samba em Berlim (1943), Berlim na batucada (1944), Pif paf (1945), Caídos do céu (1946) e Esta é fina (1948), todos de Luís de Barros. No Carnaval de 1935 lançou o samba Foi ela (Ary Barroso) e a marcha Grau dez (Ary e Lamartine) e depois o samba Na virada da montanha (mesma parceria).

Depois de vários anos, e pela última vez, atuou no teatro musicado na bem sucedida burleta Da favela ao Catete, de Freire Júnior. No Carnaval de 1936 lançou as marchas Manhãs de sol (João de Barro e Alberto Ribeiro), Uma porta e uma janela (Nássara e Roberto Martins), A.M.E.I. (Nássara e Eratóstenes Frazão), os sambas É bom parar (Rubens Soares) e Me queimei (Nássara e Valfrido Silva) e no meio do ano o samba Favela (Roberto Martins e Valdemar Silva). Nas festas juninas foi muito cantada a marcha Pula a fogueira (Getúlio Marinho e João Bastos Filho). Nesse ano apresentou-se na Radio El Mundo, de Buenos Aires, por dois meses, tendo levado Alzirinha Camargo e Benedito Lacerda, e também publicou sua autobiografia Minha vida.

Em 1937 gravou o samba-canção Serra da Boa Esperança (Lamartine Babo). Em 1938, no Carnaval pernambucano, marcou sucesso com as gravações dos frevos Ui, que medo eu tive! (Aníbal Portela e José Mariano) e Júlia (Capiba) e, no Carnaval carioca, com os sambas Ando sofrendo (Roberto Martins e Alcebíades Barcelos) e Vão pro Scala de Milão (Ary Barroso). Nos gêneros sentimentais, lançou o samba-canção A única lembrança (Ary Barroso) e a canção Meu romance (Saint-Clair Senna).

Em 1939 registrou as valsas Diga-me e Minha adoração (ambas de Nelson Ferreira) e Valsa dos namorados (Silvino Neto) e o gênero a que se chamou "samba-exaltação" com Aquarela do Brasil (Ary Barroso), designado no selo do disco "cena brasileira". Transferiu-se para a Columbia e gravou nesse gênero Brasil (Benedito Lacerda e Aldo Cabral), em dueto com Dalva de Oliveira, 1939; Onde o céu azul é mais azul (João de Barro, Alberto Ribeiro e Alcir Pires Vermelho), 1940; Canta Brasil (Alcir e David Nasser), 1941; Bahia com H (Denis Brean), 1947; São Paulo, Coração do Brasil (com David Nasser), 1951, e outros.

Em 1940 lançou no Carnaval a marcha Dama das camélias (Alcir e João de Barro) e os sambas Solteiro é melhor (Rubens Soares e Felisberto Silva) e Despedida de Mangueira (Benedito Lacerda e Aldo Cabral). Em 1941 lançou os sambas carnavalescos Poleiro de pato é no chão (Rubens Soares) e Eu não posso ver mulher (Osvaldo Santiago e Roberto Roberti) e a valsa Eu sonhei que tu estavas tão linda (Francisco Matoso e Lamartine Babo). Depois de atuar em diversas emissoras, fixou-se a partir de 1941 na Rádio Nacional até falecer. Seu programa dos domingos ao meio-dia, Quando os ponteiros se encontram, apresentado pela locutora Lúcia Helena, obteve maciça audiência em todo o Brasil.

Em 1942 foi um dos vencedores do Carnaval com Sandália de prata (Alcir e Pedro Caetano) e, na música romântica, lançou as valsas Carnaval da minha vida (Benedito Lacerda e Aldo Cabral) e Capela de São José (Marino Pinto e Herivelto Martins). Em 1943 gravou as versões dos foxes-canções Beija-me muito (Consuelo Velazquez e David Nasser) e O amor é sempre amor (Hupfeld e Jair Amorim), e a valsa-bolero A mulher e a rosa (Alcir e Davi Nasser) e, em 1944, no Carnaval, a marcha Eu brinco (Pedro Caetano e Claudionor Cruz) e o samba Odete (Herivelto Martins e Waldemar de Abreu), com o Trio de Ouro. Em tempo de guerra gravou Canção do expedicionário (Espártaco Rossi e Guilherme de Almeida) e várias versões.

Em 1945 seus sucessos no Carnaval foram o samba Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti) e Que rei sou eu? (Herivelto e Valdemar da Ressurreição); em 1946, a marcha Palacete no Catete (Herivelto e Ciro de Sousa) e o samba Vaidosa (Herivelto e Artur Morais); depois, o samba Fracasso (Mário Lago) e as regravações da canção Minha terra (Valdemar Henrique) e do fox-canção O cigano (Marcelo Tupinambá e Gastão Barroso).

Em 1947, no Carnaval, fez sucesso com o samba Palhaço (Herivelto e Benedito Lacerda) e depois com Adeus (Cinco letras que choram) (Silvino Neto), Bahia com H, já referido, e os sambas-canções Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues) e Caminhemos (Herivelto Martins); em 1948, o samba Falta um zero no meu ordenado (Ary Barroso e Benedito Lacerda). Vieram então os sambas-canções Quem há de dizer (Lupicínio e Alcides Gonçalves), Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio) e Madrugada (Herivelto e Evaldo Rui).

Em 1949 foram sucessos carnavalescos os sambas Maior é Deus (Felisberto Martins e Fernando Martins) e a marcha Pode matar que é bicho (sua com Haroldo Lobo e Nilton de Oliveira) e, em 1950, foi muito cantado o samba A Lapa (Herivelto e Benedito Lacerda); lançou ainda os sambas-exaltação Forasteiro e Aquarela mineira (ambos de Ary Barroso) e o samba Maria Rosa (Lupicínio Rodrigues).

Em 1951, foi a vez dos sambas Deus lhe pague (Polera, André Penazzi e Davi Nasser) e Lili (Haroldo Lobo e Davi Nasser), das marchas Holandesa (Davi Nasser e Haroldo Lobo), com Dalva de Oliveira e Retrato do velho (Haroldo Lobo e Marino Pinto) e do samba-exaltação São Paulo, coração do Brasil (com David Nasser). A parceria com David Nasser, iniciada em 1940, resultou em 20 composições e um livro de bolso biográfico, escrito por David, Chico Viola, publicado em 1966.

Em 1952, no Carnaval, teve muito êxito com a marcha Confete (Jota Júnior e David Nasser). Faleceu em desastre de automóvel na Via Dutra, quando o Buick que dirigia recebeu o choque de um caminhão na contramão.

Letras e cifras

































































































































Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.

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