sexta-feira, abril 20, 2012

Abílio Martins

Abílio Martins, cantor, sambista e compositor, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, e faleceu na mesma cidade em 24/11/1993. Foi puxador de sambas-enredo da Escola de Samba Lins Imperial do Rio de Janeiro, das mais tradicionais agremiações cariocas do samba.

Contratado pela gravadora Copacabana, estreou como cantor em gravações comerciais no ano de 1961, interpretando a batucada Adeus amor, de Don Carlos e Mulequinho, e o samba Izabel, de Alfredo e Alfredinho, esta última gravação inclusive seria incluída no LP Carnaval é Brasil da gravadora Copacabana.

No ano seguinte, gravou os sambas Esperança, de Mano Décio da Viola, Paulo Silva Filho e Ari Cruz, e Passarela da Avenida, de Avarese e Alfredo Gomes.

Em 1963, gravou os sambas Adeus Dolores, de Pereira Matos, Dias da Cruz, D. Matos e Bola 7, Uma lágrima, de Benedito Reis e Jair Amorim, Piau, de Jaburu e Ari Guarda, Tudo acabado, de Mano Décio, Geraldo Barbosa e Lourival Perez, Sofrimento, de Antônio Alves, e Véu da saudade, de Antônio Alves e Aidno Sá, além do samba-canção Onde estás felicidade, de Jorge Washington e Lourival Peres.

Ainda em 1963, apareceu em três coletâneas de carnaval da gravadora Copacabana: Rio - Carnaval com o samba Adeus Dolores, de Pereira Matos, Dias da Cruz, D. Mattos e Bola Sete, do LP Samba, oração do morro - Com a Escola de samba Império Serrano.

Em 1964, gravou o samba Não diga adeus, de Jair Amorim e Benedito Reis, e a marcha Laranja da Bahia, parceria sua com J. Maia. Nesse ano, partcipou do LP Os Canários das Laranjeiras apresentam o seu carnaval da gravadora Som/Copacabana interpretando os sambas Uma lágrima, de Jair Amorim e Benedito Reis, e Abandono, de Elias Moreno.

Para o carnaval de 1965, do Quarto Centenário da cidade do Rio de Janeiro, participou do LP Carnaval Rio Quatrocentão cantando o samba Deu fungum, de Benedito Reis. No mesmo ano, participou do LP duplo 1565 / 1965 - Rio carnaval da gravadora Copacabana cantando o samba Rio, de Ary Barroso. Gravou ainda o samba Minha maré, de Padeirinho e Linita Reis, para o LP Carnaval Copa 66 da gravadora Copacabana.

Em 1967, gravou com o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos o LP O Cacique de Ramos - Abílio Martins e G. R. Cacique de Ramos da Walplast interpretando os sambas Fica que pode, de Mendes e Arnoldo Silva, Canto de paz, de Linda Veloso e Cacique, Amor de fantasia, de José Carlos, José Braga e Cacique, Vem pra crer, de Américo Filho e Cacique, Até amanhã, de Domingos Paulo, Yasmin e Cacique, Feitiço, de Dida, Cheguei a tempo, de Dida, O samba termina agora, de Mendes e Neoci, Indecisão, de Matias, Foi um sonho, de Niltinho, Bebo por prazer, de Velha, e Decisão, de Niltinho e Ubirany.

Em 1968, quando foram lançados os primeiros LPs com gravações de sambas-enredo das escolas de samba participou da gravação feita pelo Museu da Imagem e do Som interpretando o samba-enredo Sublime pergaminho, de Carlinhos Madrugada, Zeca Melodia e Nilton Russo, para a Escola de Samba Unidos de Lucas.

Em 1970, lançou pela gravadora Tropicana/CBS o LP Voltei no qual interpretou os sambas Parei na sua, Dúvida, Anjinho no morro, Quanto pecado, Voltei, Maria lavadeira, Eu não toco berimbau, Mangueira é samba, Hei de vencer, Sublime pergaminho, Amor em silêncio, Samba da peteca, O carreiro e Fala meu samba.

Ainda em 1970, tomou parte do LP  As 10 grandes Escolas de samba - Sambas-enredo 1970 da RCA Victor interpretando O fabuloso mundo do circo, de Antônio dos Santos Filho e Marcos R. da C. Santos, para a Escola Unidos do Jacarezinho, e Um cântico à natureza, de N. J. de Oliveira, A. J. de Oliveira e D. E. Ferreira, para a Estação Primeira de Mangueira.

Em 1972, sua interpretação para o samba-enredo Rio, Carnaval dos Carnavais foi incluída no LP Os Maiores Sambas-Enredo de todos os tempos Vol. II que teve direção de produção de Roberto Menescal e direção de estúdio de Paulo Tapajós, Elton Medeiros e Mazola, disco lançado pela gravadora Philips/Phonogram.

Para o carnaval de 1974, participou da gravação de dois LPs, Sambas de enredo das Escolas de samba do Grupo 1 - Carnaval 1974 da AESEG/Top Tape interpretando Dona Santa Rainha do Maracatu, de Wilson Diabo, Malaquias e Carlinhos, para o Império Serrano, e do LP Sambas de enredo 74 - Blocos carnavalescos do Grupo 1 - Carnaval 1974 da gravadora CID cantando Salgueiro sua História e suas glórias, de Messias Dória e Adilson Catimba.

Lançou pela Musidisc o LP Isto é samba autêntico - VOL. 1, que seria relançado em 1975, pela gravadora RCA Camden, com os sambas O pior é sabe", de Walter Rosa, Colibri, de Jurandir, Céu é fôrro, de Noel Rosa de Oliveira e Ivan Salvador, Briga entre as flores, de Taú Silva e João Laurindo, Paraíso do amor, de Chocolate, Nilo Moreira e Luis Ferreira, Fase, de Carlos Elias, Senhor samba, de Bidi e Velha, Cego de amores, de Antônio Valentim e Osir Pimenta, Esperança, de Eucides Souza Lima, Por isso que eu bebo, de Joacyr Santana, O morro, de Niltinho e Luís Henrique, Rainha da natureza, de Matias de Freitas Mendes, Fazendo pirraça, de Sergio Gomes e Osvaldo Posa. 

Em 1976, no LP O legendário Mano Décio da Viola, da gravadora Polydor, teve gravado o samba-enredo Exaltação Brasil holandê", parceria com Chocolate do Salgueiro e Mano Décio. Nesse ano, gravou o samba-enredo Folia de Reis, da Escola de samba Lins Imperial incluído no LP das escolas de samba daquele ano. Ainda no mesmo ano sua interpretação do samba-enredo Sessenta e um anos de República, de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola, gravado com coro, foi lançado no disco O Ciclo Vargas - Uma visão através da música popular, lançado pela Som Livre.

Em 1977, gravou para o LP Sambas de Enredo das Escolas de samba do Grupo 1 da AESCRJ/Top Tape, o samba enredo da Escola Imperatriz Leopoldinense, Viagem Fantástica às Terras da Ibirapitanga, de Walter da Imperatriz, Carlinhos Madrugada e Nelson Lima.

Em 1979, o samba É uma verdade, parceria com José Paulo e Mano Décio, foi gravado por Mano Décio da Viola em LP da CBS. No mesmo ano, teve o samba Amar como eu amei, com Mano Décio, gravado por Dona Ivone Lara no LP Sorriso de criança, da EMI/Odeon.

Em 1981, gravou Na terra do pau brasil nem tudo caminha viu, de Jorge Lucas e Édson Paiva, para o Império Serrano. No mesmo ano, gravou pela Polydor sambas enredo do então grupo 2A, interpretando As grandes festas do Rio nas quatro estações do ano, da Grande Rio, samba-enredo de Barbeirinho, José Eduardo, Vadinho e Waldemar da Rocha, O boi bumba com abóbora, de Dodô Marujo e Zeca do Varejo, para a Escola de samba Em Cima da Hora, e O curioso mercado de Ver-o-peso, da Acadêmicos do Engenho da Rainha, de autoria de Vanil do Violão, Álvaro Sobrinho, Carambola Porranca e Parrô. Gravou também o samba-enredo da Escola de samba Unidos de Padre Miguel, do grupo 2B, Aí vem dezembro, de Robertinho 17.

Para o carnaval de 1982, gravou para o Grupo 1A o samba-enredo da Escola de samba Unidos de São Carlos Onde há rede há renda, de Caruso e Djalma Branco. Gravou também para o Grupo 1B o samba-enredo da Escola de Samba Unidos de Lucas, Lua viajante, de Zeca Melodia, D. Gertrudes e Dagoberto de Lucas.

Em 1984, sua gravação para o samba enredo Viagem Fantástica às Terras da Ibirapitanga, foi incluída no LP 10 anos de Samba Enredo - G. R. E. S. Imperatriz Leopoldinense da Top Tape. Em 1987, gravou o samba enredo Tradição de uma raça, de Ormindo, da Escola de samba Arranco em sua última participação em discos de sambas enredo.

Um dos pioneiros na gravação de sambas enredo para o carnaval numa época em que as Escolas de Samba ainda não possuiam intérpretes oficializados gravou sambas enredo para o Império Serrano, Imperatriz Leopoldinense, Unidos de Lucas, Arranco, Unidos do Jacarezinho e Salgueiro. Lançou 19 discos solo em 78 rpm e LPs além de participar em cerca de 25 coletâneas e LPs de sambas-enredo.

Obras

É uma verdade (c/ José Paulo e Mano Décio)
Exaltação Brasil holandês (c/ Chocolate do Salgueiro e Mano Décio)
Laranja da Bahia (c/ J. Maia)

Discografia

(1964) Não diga adeus / Laranja da Bahia • Copacabana • 78
(1963) Adeus Dolores / Uma lágrima • Copacabana • 78
(1963) Piau • Copacabana • 78
(1963) Tudo acabado • Copacabana • 78
(1963) Sofrimento • Copacabana • 78
(1963) Véu da saudade / Onde estás felicidade • Copacabana • 78
(1962) Esperança / Passarela da Avenida • Copacabana • 78
1961) Adeus amor / Izabel • Copacabana • 78


Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB.

Abigail Parecis

Abigail Parecis (Abigail Alessio Parecis), cantora, filha adotiva do maestro italiano Filippo Alessio, nasceu em São Paulo, SP, em 1905.  No entanto, há controvérsias quanto ao local de seu nascimento. 


A Noite Illustrada, de novembro de 1931, por exemplo, sugere, numa biografia romântica, que a soprano nasceu em uma aldeia da tribo dos índios Parecis, no Oeste do Paraná.

Outra versão, a do Diário da Noite, de 20/02/1931, relata que o maestro Alessio a encontrou pequenina, trabalhando em um circo mambembe num lugarejo do interior do Estado de São Paulo.

Atuando artisticamente na capital paulista, foi contratada pela gravadora Columbia e, em fevereiro de 1929, participou da primeira gravação da Columbia no Brasil interpretando com acompanhamento de violão as modinhas Flor amorosa, de Catulo da Paixão Cearense e Joaquim Antônio da Silva Callado (1849-1880), que teve seu nome omitido no disco, e Meu amor, de Catulo da Paixão Cearense.

Em 1930, gravou as canções Ave Maria e Diante de um berço, de F. Alessio, e O beijo, de Raul Morais, e a valsa Ilusão que se vai, de Jaime Redondo.

Em 1932, ingressou na Parlophon e gravou com acompanhamento da Orquestra Paulistana, então dirigida pelo maestro Francisco Mignone, as canções La canzone dell'amore, de C. A. Bixio e B. Cherubini, e Aquellos ojos verdes, de Nilo Menéndez e Adolfo Utrera, e a valsa La canción del amor, de Eleuterio Yribarren.

Em sua curta carreira apresentou-se em rádios paulistas e gravou cinco discos pelas gravadoras Parlophon e Columbia sendo seu nome registrado na história da Música Popular Brasileira por ter participado da primeira gravação de discos Columbia no Brasil.

Foi responsável pelo surgimento do ator Grande Otelo. Quando o pai de Otelo morreu esfaqueado e a mãe, uma cozinheira que trabalhava com o copo de cachaça ao lado do fogão, casou outra vez, ele aproveitou a visita de uma Companhia de teatro mambembe a Uberlândia para fugir. A diretora do grupo, Abigail Parecis, o adotou "de papel passado"e o levou para São Paulo.

 De um lugarejo do interior de S. Paulo a Nova York

 

Um telegramma de Nova York nos diz: "A cantora índia brasileira Parecis, filha de Santa Catharina, cantará na quinta-feira, no programma da Associação Americana-Brasileira a ser irradiado, as canções "Ha de Voltar a Mim" e "Princeza de Abril".

Quem é essa "índia brasileira Parecis"?

É uma criaturinha que nada tem de índia. É brasileira sim, mas não é índia. É a cantora Abigail Parecis, cujos dotes artisticos foram cultivados pelo maestro Alessio que em S. Paulo, no tempo de vida do presidente Carlos de Campos, um grande apaixonado da musica, gozava de immenso prestígio.

O maestro Alessio era comensal dos Campos Elyseos e fazia musica com o autor de "Um caso singular", que outro não era senão Carlos de Campos.

Conta-se de Abigail Parecis uma historia que vamos repetir. Não sabemos, porém, se é verdadeira em absoluto, se tem sómente visu de verdade ou se é pura fantasia.

Pelos logarejos do interior vivia a sua vida de nomade um "circo de cavallinhos", sem cavallos, sem cavallões e sem cavallinhos. Um circo como tantos outros que existem no Brasil. E delle faziam parte uma linda moreninha, typo perfeito de brasileira, e um pretinho de 6 annos. Dois verdadeiros temperamentos artisticos. Eram o grande attractivo do circo. Abigail, que era menina, e o pretinho cantavam e encantavam pela sua graça ingenua, pela vivacidade de espirito e pela voz de que eram dotados.

Viu-os o maestro Alessio, quando, após uma peixada por ele preparada para o presidente Carlos de Campos e amigos - o maestro era tambem um eximio cozinheiro - comeu tanto que fixou doente ao ponto de ser obrigado a passar uma temporada no interior, no logarejo onde se achava o circo, afim de se restabelecer. O maestro viu os dois artistazinhos e como toda a gente se enthusiasmou por elles.

Ao regressar a S. Paulo, relatou o seu "achado" ao dr. Carlos de Campos. Relatou-o e dourou-o. O presidente enthusiasmou-se tambem e mandou buscar lá no picadeiro do circo a menina e o pretinho que passaram a ser protegidos do Estado, embora vivessem em casa do maestro italiano.

Quando, mais tarde, aqui no "Municipal" subiu á scena "Um caso singular" do então presidente compositor, Abigail Parecis cantou nos côros e o pretinho tambem se exhibiu, embora a peça não o permittisse, porque na época da sua acção não havia negros no Brasil. Todo mundo gostou da peça, dos artistas, da menina e do pretinho. Carlos de Campos era presidente de São Paulo...

Naquella época Abigail começou a apparecer. Depois deu concertos no seu Estado. O maestro, com habilidade ia erguendo a artista. O pretinho foi aos poucos desapparecendo. Hoje não se fala mais nelle. Talvez surja ahi de repente para interpretar o "Otello", seu grande sonho de criança, o que de resto elle já fazia nos bastidores do theatro com graça infinita. Abigail, ao contrario, ia cada vez mais apparecendo aos olhos do publico.

Eis que agora telegrammas de Nova York fazem referencia á sua arte. Que ella conquiste a grande cidade. Como quer que seja o seu salto foi grande: de um logarejo no interior do Brasil a Nova York. Mas tambem Abigail Parecis foi de circo... 

(Diário de Noite, de 20/02/1931, com a grafia original)

Playlist




Discografia


(1932) La canzone dell'amore • Parlophon • 78
(1930) Ave Maria / Diante de um berço • Columbia • 78
(1930) O beijo / Ilusão que se vai • Columbia • 78
(1930) La cancion del amor / Aquellos ojos verdes • Parlophon • 78
(1929) Flor amorosa / Meu amor • Columbia • 78

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Fontes: Noite Illustrada n° 83, de novembro/1931; Revivendo Músicas; Memória da MPB; Tabloide Digital; Diário de Noite, de 20/02/1931; Dicionário da MPB.