Com Elizeth Cardoso (indicada pela seta) como porta-estandarte o bloco Turunas de Monte Alegre arrebatou seu primeiro campeonato em 1936 (Foto: Biblioteca Amadeu Amaral - FUNARTE). |
Foi pois na compenetração do nome no adjetivo de seu batismo, que os carnavalescos, fundadores ou simples associados do grêmio carnavalesco Turunas de Monte Alegre, entraram na liça dos folguedos de Momo. Começaram como bloco e ‘paparam’ três campeonatos seguidos. Constituíram-se em rancho, modalidade de maiores exigências artísticas, e por seis vezes triunfaram em primeiro lugar sem ter quem os enfrentasse ou ameaçasse interromper a série de seus triunfos. Resolveram, então, tornar-se em ‘grande sociedade’ e desfilar com alegorias ao lado dos veteranos Tenentes, Democráticos e Fenianos numa competição mais difícil, menos ‘sopa’ que as travadas anteriormente.
Numa esquina, o nascimento
Os Turunas Engarrafados, um ‘sujo’ (grupo carnavalesco) formado pelos sócios do Boqueiro do Passeio e que marcou sua presença na folia de 1906, teve seu nascimento na garagem do próprio clube. Já os Turunas de Monte Alegre, hoje tricampeão dos blocos e hexacampeão dos ranchos, nasceram numa esquina, a da Rua André Cavalcante (ex-Silva Manoel) com a da Rua do Riachuelo. Depois, na casa do Jujuba (Milton Schleder), na Rua Monte Alegre, em 5 de dezembro de 1934, foi que se constituiu clube para participar da farra do Carnaval e competir, como bloco, com outros existentes na época. Iriam desfilar junto com o Eles te Dão, o Respeita as Caras, o De Língua Não se Vence, etc.
Na euforia da fundação, Ernesto, Afonso, Margarida, Fontela, Marçal e mais alguns presentes ao ato deliberaram o comparecimento do clube, apenas como simples bloco, num banho à fantasia a ser realizado no Flamengo. A presença do já denominado Turunas de Monte Alegre, embora sem caráter oficial e não visando a alcançar prêmio algum dos vários a serem distribuídos, resultou, no entanto em vitoriosa estréia. A rapaziada fazia sua primeira saída pré-carnavalesca somente para ‘dar uma pala’ de sua fibra foliônica e, de volta, passando pela esquina onde se reunia, exibia o troféu conquistado. Era o prêmio do primeiro lugar obtido e também sua primeira vitória.
“É chato ganhar sempre”
Animados com o êxito da despretensiosa amostra que fizeram, os Turunas, em 1935, reunindo cerca de setenta figuras e subordinados ao enredo ‘Tribo dos amores’, realizaram sua primeira passeata no Carnaval. Antonio Silva (Galo Cego), o presidente, no inscreveu o clube em competições. Era uma passeata sem compromisso, com o fito único de recreação. No ano seguinte, porém, o Turunas de Monte Alegre aderia ao ‘Dia dos Blocos’, promoção do Correio da Noite, e arrancava o campeonato sobrepujando coirmãos mais antigos e que prometiam ‘abafar’ o novato. Igual proeza levou a efeito em 1936, 37 e 38 participando do mesmo certame e logrando, por isso, o honroso título de tricampeão dos blocos.
Sentindo que não teria dificuldade de suplantar nos anos subseqüentes os possíveis adversários, os turunas renunciaram à condição de bloco. Passaram a ter a constituição de rancho e alinhavam-se entre os conjuntos dessa categoria. Começavam portanto desde 1939 a entrar em cotejo com agremiações que seguiam a tradição dos famosos Ameno Resedá, Flor do Abacate, Caprichosos da Estopa etc., sem ter medo disso, ‘foram pra cabeça’.
Com Elizete Cardoso como porta-estandarte (depois de vencida a resistência de seus pais) e o Duque, garboso, de mestre-sala, o Turunas de Monte Alegre alcançava o primeiro lugar na disputa cujo patrocinador era o Jornal do Brasil.
Em 1940 merecia novamente a láurea de campeão, que também lhe foi outorgada em 41 e 42, assim como em 47 e 48, após a interrupção de 43 a 46 causada pela guerra mundial. Consagravam-se os turunas como hexacampeões dos ranchos, depois de terem sido tricampeões dos blocos. Podiam, assim, exclamar enfastiados: “é chato ganhar sempre!”
A cavalo e com alegorias
Imitando o célebre espanhol que buscava valientes para pelear com ele, o Turunas de Monte Alegre, aureolado por tantos campeonatos e desejando ter nos prélios do reinado de Momo novas emoções, buscou outra modalidade.
Em 1950 filiava-se à Federação dos Grandes Clubes Carnavalescos e na noite de terça-feira, fechando o tríduo álacre da maior festa carioca, entrava na Avenida Rio Branco para seu primeiro desfile com alegorias. A frente, formando a guarda de honra que abria o préstito, os turunas montando bonitos cavalos viam-se aplaudidos pelo povo e reverentes chapeau bas (usando-se o francesismo carnavalesco) agradeciam. Acompanhando-os as moças que vinham no alto dos carros alegóricos também retribuíam a acolhida do público e jogavam-lhe beijos aos punhados.
Como estava previsto, participando de uma competição onde além dos centenários Fenianos, Democráticos e Tenentes, havia o Pierrôs da Caverna, a Embaixada do Sossego e outros antigos — coirmãos, a parada seria difícil. Era o ‘benjamim’ das grandes sociedades, e embora apresentando vistosas alegorias concebidas pelo experimentado Rainha (Antonio Setta), conquistou apenas o longínquo sexto lugar na classificação encabeçada pelos Tenentes. Longe, porém, de o intimidar, esse revés levou o clube Turunas de Monte Alegre a envidar esforços. E pondo sua gente em brio nos anos de 1953 e 57 assegurava para suas cores o vice-campeonato das grandes sociedades.
Encontrando finalmente competidores que não lhe têm permitido reeditar a seqüência de campeonatos que alcançaram como bloco e rancho, os turunas, mesmo assim, estão sempre no páreo, lutam por novas vitórias. O clube que ‘teve seu começo’ na esquina da Rua André Cavalcante com a Rua Riachuelo procura tenazmente não desmoralizar o termo de seu título.
(O Jornal, 14/02/65)
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Fonte: Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007. 326p. :il.