Aldo Taranto (1918 São Paulo, SP), maestro, compositor e arranjador, iniciou a carreira artística como compositor no começo da década de 1930. Em 1931, seu samba Candinha, com André Filho, foi gravado por Sílvio Caldas, e as canções Flor agreste, com João Martins, e Naquele altar, foram lançadas na Victor por Gastão Formenti.
Em 1933, compôs com Donga, o samba Quando você morrer, gravado por Carmen Miranda. No ano seguinte, teve nova música gravada por Carmen Miranda, a marcha Agora não, parceria com Valfrido Silva.
Teve também no mesmo ano, o samba Eternamente, e a valsa Esquecer, com Osvaldo Santiago, e a canção Perjúrio, com Valentina Biosca, gravadas na Victor por Gastão Formenti.
No começo da década de 1940, passou a dirigir sua própria orquestra. Em 1941, acompanhou com sua orquestra, na Columbia a dupla Joel e Gaúcho na gravação da valsa Sempre o mesmo Rio..., de João de Barro e Alberto Ribeiro, e da rancheira Cabocla do coração, de Constantino Silva. Em 1947, seu bolero Os cabelos de Maria, parceria com José Mauro e Geraldo Mendonça, foi gravado na Continental por Dircinha Batista.
No início da década de 1950, foi diretor musical dos Discos Rádio. Em 1952, fez os arranjos para o LP Poeta da Vila - Sambas de Noel Rosa gravados por Marília Batista, o primeiro lançado pelo selo Rádio da Rádio Serviços e Propaganda Ltda. Por essa época, compôs jingles comerciais em parceria com o compositor e jornalista Antônio Maria.
Em 1954, seu tango Taça do amargor, com Romeu Fernandes, foi gravado na Sinter por Romeu Fernandes. Nesse ano, acompanhou com sua orquestra na Continental, o cantor Vicente Celestino na gravação das canções Nas asas brancas da saudade, Renúncia em prantos e Entre lágrimas, na toada-canção Dileta, e na valsa Noite cheia de estrelas, de Cândido das Neves; na canção-patriótica Meu Brasil, de Pedro de Sá Pereira e Olegário Mariano; na serenata Os milhões de arlequim, de Drigo, e na valsa Último beijo, de W. Paans e Eustórgio Wanderley.
Em 1955, teve os boleros Um caso de amor e Um dia a menos, e o beguine Exatamente agora gravados Waldir Calmon e Seu Conjunto no LP Ritmos melódicos Nº 1, e o bolero Foi assim no LP Ritmos melódicos Nº 3 também com Waldir Calmon e Seu Conjunto, ambos da gravadora Rádio. Em 1956, acompanhou com seu conjunto ao cantor Eurístenes Pires na gravação da balada Oh! Mar e no bolero Amor ao luar, ambas de Eurístenes Pires.
Em 1957, o bolero Tudo é amor foi lançado por Waldir Calmon e Seu Conjunto no LP Feito para dançar Nº 6 da gravadora Rádio. Em 1959, lançou pelo selo Internacional CID o LP Sonhos, amor e violinos interpretando com sua orquestra as composições Por causa de você, de Tom Jobim e Dolores Duran, A volta do boêmio, de Adelino Moreira, Abandono cruel, de Luis Soberano e Anicio Bichara, Vitrine, de Adelino Moreira, Se todos fossem iguais a você, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Prece de amor, de René Bittencourt, Abismo, de Anísio Silva, Sonhando contigo, de Anísio Silva e Fausto Guimarães, Conceição, de Dunga e Jair Amorim, Ouça, de Maysa, Graças a Deus, de Fernando César, e Tudo foi ilusão, de Laerte Santos e Arcilino Tavares, todos grandes sucessos românticos da época.
No mesmo ano, o choro Manhoso foi gravado por Dionysio e Seu Quinteto no LP Sax e ritmo da gravadora Internacional CID, enquanto a canção Natal noite de amor foi incluída no LP Dançando com Papai Noel - Guimarães e Seu Conjunto do selo Internacional CID. No ano seguinte, Tudo é amor foi incluída por Dionysio e Seu Quinteto no LP Sax magia.
Em 1965, seu choro O saci na flauta, com José Mauro, foi gravado por Altamiro Carrilho no LP Choros imortais nº 2. Em 1968, no LP O sucesso continua, de Moreira da Silva, teve gravado o samba O velho não bobeia, parceria com Mário Rossi.
Em 1976, seu samba-canção Natal, noite de amor, com Nem, foi gravado por Ângela Maria.
Teve composições gravadas por Sílvio Caldas, Gastão Formenti, Carmen Miranda, Dircinha Batista, Moreira da Silva e Altamiro Carrilho, entre outros. Foi parceiro de Mário Rossi, Osvaldo Santiago, Ary Barroso, Valfrido Silva e André Filho, destacando-se como compositor e também como arranjador.
Obra
Agora não (c/ Walfrido Silva), Cabelos de Maria, Candinha (c/ André Filho), Devagar, senão eu caio, Esquecer (c/ Osvaldo Santiago), Eternamente (c/ Osvaldo Santiago), Exatamente agora, Flor agreste (c/ João Martins), Jurei me vingar, Labaredas do amor (c/ Ary Barroso), Manhoso, Naquele altar, Natal, noite de amor (c/ Nem), O saci na flauta (c/ José Mauro), O velho não bobeia (c/ Mário Rossi), Os cabelos de Maria (c/ José Mauro e Geraldo Mendonça), Perjúrio (c/ Valentina Biosca), Poltrona surrada (c/ Antonio Maria), Taça do amargor (c/ Romeu Fernandes), Tudo é amor, Um caso de amor.
Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB - Bibliografia Crítica: AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982; CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor , 1965; VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira. São Paulo: Martins, 1965.
segunda-feira, dezembro 30, 2013
Como se fazia samba em 1930
"Se quiséssemos reunir tudo o que já se tem dito e escrito acerca dos sambas e marchas carnavalescas, obteríamos material capaz de encher grossas colunas. Há, porém, algo que o público que ouve o samba no rádio ou no disco desconhece. É a resposta que se pode dar à pergunta: como se faz um samba? ...
O cenário é, em geral, o mesmo: uma mesa de café e alguns “sambistas” — três ou quatro. Mais do que isto, “não dá certo”. A localização do café varia: às vezes é na Avenida Rio Branco, às vezes no Estácio. Geralmente, aliás, daí é que tem saído os melhores sambas. O sambista que se preza não abandona o Estácio.
A hora de reunião é sempre depois de meia-noite. Antes, não haveria tempo do “malandro” sentir a “bossa”. Três, quatro horas da madrugada é ideal. Mais cedo, só quando os sambas são feitos na Avenida...
A inspiração chega sempre. O motivo para o samba é encontrado nas coisas mais insignificantes: um homem que entra pra vender bilhetes, um sujeito que bate na porta, um garçom que demora a trazer a “média”, uma notícia de sensação nos jornais, às vezes um simples anúncio pregado numa parede e temos a melodia lá encaminhada, pelo tamborilar dos dedos na mesa do café ou numa caixa de fósforos. Às vezes entra em cena o chapéu de palha. Quando acaba a noite, o sambista se retira para casa, leva no ouvido a música e não raro as palavras.
Nem todos os sambas, porém, se fazem assim. Muitos surgem após uma briga com a “pequena”: são os sentimentais. Ao invés de serem imaginados num café, o sambista procura um lugar quieto, longe do ruído e dos companheiros. E assim se fazem os mais belos sambas, dos quais “Pra esquecer” é o padrão.
Com o ouvido cheio da melodia da véspera e a memória ainda transbordante do ritmo da música improvisada, vai no dia seguinte o sambista procurar quem lhe escreva a música, pois ele é, na maior parte das vezes, completamente leigo no assumto e desconhece inteiramente o valor de uma nota musical. Sabe apenas murmurar os compassos, que é incapaz de traduzir no papel.
Aldo Taranto é o nome da criatura que vai resolver as dificuldades em que se encontra o autor da música. Foi ele quem rascunhou “O teu cabelo não nega”, “Linda morena”, “Trem blindado”, “Garota da rua”, “Agora é cinza”, “A tua vida é um segredo” e alguns outros legítimos sucessos da carnavais passados. Diante dele o sambista põe-se a cantar a melodia e Aldo Taranto, com uma surpreendente facilidade e, graças ao seu extraordinário valor como pianista, em breves instantes transporta ao piano o que ouve cantarolar. Do piano, para a pauta musical, a distância é pequena, mormente para ele que não acredita que a música tenha segredos...
Há cinco anos que Aldo Taranto se vem dedicando a isto. Pela sua mão já passaram milhares de másicas. Centenas de sucessos foram por ele escritos e adaptados e, no emtanto, quando o “speaker” anuncia um samba de sucesso ninguém se lembra, sequer, de sua existência...
Já com o samba escrito e pronto para ser interpretado ao piano, o sambista deixa Aldo Taranto e vai procurar o que lhe falta, para que a música possa ser gravada: a orquestração. Não raro, uma orquestração bem feita é o maior fator de êxito de uma música e dela depende sempre mais de cinquenta por cento de seu sucesso.
Rua do Chichorro, 25, sobrado. Sobe-se uma escada e logo uma voz amável nos atende:
— Queiram se sentar.
Estamos diante de Alfredo Vianna. Este nome, aliás, ninguém conhece. Pixinguinha, o orquestrador, entra em ação...
É possível, porém, que o Pixinguinha tenha alguma popularidade. Eis o homem. É ele que faz a orquestração. Como ninguém, possui em alta dose o senso de efeito que podem causar ao público os vários tipos de orquestração. Conhece e sabe perfeitamente quais as modulações que deve colocar e o resultado: “Ride, palhaço”, “Foi ela”, “Formosa”, “Teu cabelo não nega” e muitas outras, sucessos absolutos de orquestra.
— Este ano tive poucas músicas: umas oitenta mais ou menos. Não é nada, em relação ao ano findo, em que tive quatrocentas.
Estará fraco este carnaval? Não, apenas um pequeno atraso. No ano passado, por esta época, os estúdios de gravação já tinham encerrado os seus trabalhos. Este ano, agora é que está começando a atividade.
Saímos, deixando Pixinguinha, homem que mais músicas tem orquestrado, o ponto final da confecção do samba.
Não falta mais nada para o samba ser lançado. Falta apenas um nome de cartaz que queira cantá-lo. Começa agora para o sambista o mais difícil, mormente se ele é pouco conhecido. Um cantor de nomeada não lança uma marcha ou um samba de um desconhecido. Uma cantora de nome prefere sempre uma composição de gente já popularizada.
Começam as desilusões, os padecimentos: “contras”, estações de rádio que para ele se fecham, diretores “que não estão em casa”, etc. E o pobre sambista vê que o ambiente é contra si e que as suas ilusões, uma após outra, estão desfeitas. E o malandro sofredor volta e na mesa do café compõe uma melodia talvez mais linda que a outra, narrando a amarga história de um samba que foi recusado e ninguém quis cantar..."
Fonte: Artigo, desenho e fotos da revista CARIOCA, de 18/01/1936.
O cenário é, em geral, o mesmo: uma mesa de café e alguns “sambistas” — três ou quatro. Mais do que isto, “não dá certo”. A localização do café varia: às vezes é na Avenida Rio Branco, às vezes no Estácio. Geralmente, aliás, daí é que tem saído os melhores sambas. O sambista que se preza não abandona o Estácio.
A hora de reunião é sempre depois de meia-noite. Antes, não haveria tempo do “malandro” sentir a “bossa”. Três, quatro horas da madrugada é ideal. Mais cedo, só quando os sambas são feitos na Avenida...
A inspiração chega sempre. O motivo para o samba é encontrado nas coisas mais insignificantes: um homem que entra pra vender bilhetes, um sujeito que bate na porta, um garçom que demora a trazer a “média”, uma notícia de sensação nos jornais, às vezes um simples anúncio pregado numa parede e temos a melodia lá encaminhada, pelo tamborilar dos dedos na mesa do café ou numa caixa de fósforos. Às vezes entra em cena o chapéu de palha. Quando acaba a noite, o sambista se retira para casa, leva no ouvido a música e não raro as palavras.
Nas mesas dos cafés, o samba começa a nascer... |
Nem todos os sambas, porém, se fazem assim. Muitos surgem após uma briga com a “pequena”: são os sentimentais. Ao invés de serem imaginados num café, o sambista procura um lugar quieto, longe do ruído e dos companheiros. E assim se fazem os mais belos sambas, dos quais “Pra esquecer” é o padrão.
Com o ouvido cheio da melodia da véspera e a memória ainda transbordante do ritmo da música improvisada, vai no dia seguinte o sambista procurar quem lhe escreva a música, pois ele é, na maior parte das vezes, completamente leigo no assumto e desconhece inteiramente o valor de uma nota musical. Sabe apenas murmurar os compassos, que é incapaz de traduzir no papel.
Aldo Taranto ao piano |
Há cinco anos que Aldo Taranto se vem dedicando a isto. Pela sua mão já passaram milhares de másicas. Centenas de sucessos foram por ele escritos e adaptados e, no emtanto, quando o “speaker” anuncia um samba de sucesso ninguém se lembra, sequer, de sua existência...
Já com o samba escrito e pronto para ser interpretado ao piano, o sambista deixa Aldo Taranto e vai procurar o que lhe falta, para que a música possa ser gravada: a orquestração. Não raro, uma orquestração bem feita é o maior fator de êxito de uma música e dela depende sempre mais de cinquenta por cento de seu sucesso.
Rua do Chichorro, 25, sobrado. Sobe-se uma escada e logo uma voz amável nos atende:
— Queiram se sentar.
Estamos diante de Alfredo Vianna. Este nome, aliás, ninguém conhece. Pixinguinha, o orquestrador, entra em ação...
É possível, porém, que o Pixinguinha tenha alguma popularidade. Eis o homem. É ele que faz a orquestração. Como ninguém, possui em alta dose o senso de efeito que podem causar ao público os vários tipos de orquestração. Conhece e sabe perfeitamente quais as modulações que deve colocar e o resultado: “Ride, palhaço”, “Foi ela”, “Formosa”, “Teu cabelo não nega” e muitas outras, sucessos absolutos de orquestra.
O magnífico Pixinguinha |
Estará fraco este carnaval? Não, apenas um pequeno atraso. No ano passado, por esta época, os estúdios de gravação já tinham encerrado os seus trabalhos. Este ano, agora é que está começando a atividade.
Saímos, deixando Pixinguinha, homem que mais músicas tem orquestrado, o ponto final da confecção do samba.
Não falta mais nada para o samba ser lançado. Falta apenas um nome de cartaz que queira cantá-lo. Começa agora para o sambista o mais difícil, mormente se ele é pouco conhecido. Um cantor de nomeada não lança uma marcha ou um samba de um desconhecido. Uma cantora de nome prefere sempre uma composição de gente já popularizada.
Começam as desilusões, os padecimentos: “contras”, estações de rádio que para ele se fecham, diretores “que não estão em casa”, etc. E o pobre sambista vê que o ambiente é contra si e que as suas ilusões, uma após outra, estão desfeitas. E o malandro sofredor volta e na mesa do café compõe uma melodia talvez mais linda que a outra, narrando a amarga história de um samba que foi recusado e ninguém quis cantar..."
Fonte: Artigo, desenho e fotos da revista CARIOCA, de 18/01/1936.
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