Heloísa numa foto dedicada à CARIOCA |
— Minha família se opunha, — declara Heloísa. — Talvez porque eu andasse com a cabeça cheia de foxes, sambas e blues, descuidando dos meus estudos de italiano, francês, inglês e literatura. Agora estudo a semana toda. Canto aos domingos como prêmio ...
Heloísa Helena possui uma simplicidade encantadora. Graças ao seu tipo de morena bem brasileira, o cinema conseguiu obtê-la durante esse período de ausência. Heloísa filmou na Cinédia, “Alô, Alô, Carnaval” ... e vai filmar ainda, achando que a sua carreira cinematográfica não terminará tão cedo.
— Porém o rádio sempre foi a minha grande paixão, — diz Heloísa à CARIOCA. — Uma espécie de paixão incorrigível, que aumenta a proporção que encontra obstáculos pelo caminho ... Agora parece que voltei a ele. Digo “parece” com um respeito quase supersticioso.
Heloísa Helena logo que ingressou para o meio radiofônico interpretava unicamente foxes americanos. Obteve um mundo de fãs, que se entusiasmavam com a sua interpretação, enviando-lhe um mundo de cartas e vários pedidos de retratos. Depois as circunstâncias impediram-na de continuar a encantar seus inúmeros ouvintes.
Heloísa Helena, garota obediente e inteiramente devotada ao sossego do seu lar feliz, passou vários meses entretida a colecionar retratos de outros artistas. A “pequena dos foxes alucinantes”, como a apelidou César Ladeira, era até há pouco tempo grande amiga de Sylvinha Mello, a bonequinha de feltro do nosso rádio.
Voltando a fazer parte da grande família radiofônica, Heloísa teve para todos os colegas uma palavra de carinho. Ela ainda continua a admirar Carmen Miranda, Francisco Alves e todos os demais artistas admiráveis. E ainda olha com uma ternura infinita a pequenina rodela de aço que transmitirá, lá fora, a sua voz americanizada.
Contando como entrou para o rádio, que se tornou mais tarde a sua grande paixão, Heloísa declara:
— Eu jamais cogitei de microfone até o instante em que o meu professor de literatura Oswaldo Orico, lembrou-se de organizar um programa na Rádio Sociedade, convidando-me a tomar parte no mesmo. A princípio foi tudo mera experiência, porém, depois, tomei gosto. Passei logo a atuar na PRA-2, PRA-3, e PRA-9, estação onde obtive o contrato mais longo, o qual durou quase um ano.
Heloísa cantou várias vezes, também, no “Programa Casé”, e guarda saudades desse tempo.
Agora ela estuda, com grande afinco, várias matérias e compõe sambas e canções, tendo já as seguintes produções: “Tempo bom”, “O mais cotado da Favela”, “Uma palavra de amor”, além de vários foxes de parceria com Francisco Mattoso.
Atuando na Mayrink, aos domingos, “como um prêmio aos seus estudos”, Heloísa demonstra a sua irresistível tendência artística e grande pertinácia.
— O meu supremo desejo é cantar sempre, — diz Heloísa Helena.
Ela aprecia o destino das cigarras que cantam, uma vez que nasceu gente com alma de cigarra, sem poder, no entanto, cantar tanto como deseja.
Fonte: CARIOCA, de 9/5/1936 (texto atualizado).