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Rimus Prazeres, o K. Peta |
Embora as bonitas marchas que ele fez para diversos ranchos
fossem assinadas como sendo de Rimus Prazeres (síntese de seu extenso nome:
Primitivo Rimus Rodrigues Prazeres), também era do K. Peta a autoria.
Simplesmente porque os dois eram a mesma pessoa dividindo-se na atuação
carnavalesca como letrista das canções entoadas pelos grupos músico-alegóricos
e como cronista nas colunas da imprensa. Aos versos condicionados às vibrantes
melodias compostas pelos seus parceiros, apunha o nome civil (na abreviatura
que usava). Na irreverência satírica de seus escritos no jornal mascarava-se
com o pseudônimo.
Assim o K. Peta, homôfono do temível ‘chefão’ do Inferno, mas dele se
diferenciando bastante, a começar pela grafia exótica do cognome, procurava
separar o poeta Rimus Prazeres de suas ‘fofocas’ jornalísticas. Não sendo,
porém, só o gato que ao se esconder deixa o rabo de fora, o endiabrado K. Peta
acabou identificado como irmão siamês do menestrel Prazeres cujo estro serviu a
um punhado de ranchos. Foi, inegavelmente, usando-se o neologismo trocadilhesco
criado por Orestes Barbosa, um ‘marchista’ dos mais disputados e expressivos.
Cronista da série K
Ao tempo em que a imprensa podia prodigalizar farto espaço ao Carnaval mantendo
em seu corpo redatorial um ou mesmo dois jornalistas especializados no assunto,
Rimus Prazeres foi um deles. Começou adotando pseudônimo da série K na qual
avultavam K. Noa, K. Rapeta, K. Dete, K. K. Reco, K. Ico e outros. Com esse
apelido assinou diversas crônicas no
Diário Carioca, em
A Pátria e,
principalmente, no semanário
O Momo, do qual, com K. Zinho (Oscar Martins) foi um dos diretores. Maliciosos, irônicos, dosados de um humorismo ferino, seus
escritos causticavam e faziam rir.
Jornalista ‘de forno e fogão’, capaz de atender bem e com desembaraço a
qualquer dos setores do compósito (bonito termo, não?) de um matutino ou
vespertino, não se ateve apenas ao carnavalesco. Logo que o assunto referente
ao Carnaval começou a ‘mixar’ e ter apenas dois ou três meses de atenção na
imprensa, passou ao noticioso generalizado. Conseguiu, então, em 1939, ser
admitido como redator da Agência Nacional onde trabalhou até poucos dias antes
de sua morte ocorrida em 1 5 de fevereiro de 1957 deixando consternados os que
com ele conviveram.
Prazeres ‘marchista’
Filho do carnavalesco Simeão integrado no Flor do Abacate, do Catete, foi
levado pelo pai pra o ‘galho’ (nome que tinha a sede da agremiação) e já em
1921 ali recebia missão de relevo. Vitorioso o rancho na
mi-carême — realizada em março por iniciativa do
Jornal do Brasil — fez parte da comissão que foi receber o troféu. Depois, em 1928, quando já havia lançado, em 1926, com Laudelino Silva, a marcha
Crepúsculo e luar, para o Carnaval desse ano, tinha, com Antenor Esteves, o cargo de mestre-de-canto. Davam-lhe incumbência de destaque e incentivavam-no a novas composições que ele próprio as ensaiava e
alcançavam o êxito desejado nos desfiles do rancho em cotejo com os coirmãos.
Sem se obrigar a uma exclusividade e solicitado por outros ranchos, Rimus
Prazeres já em 1930 atendia ao pedido do Cartolinhas Misteriosas, da Penha, e
fazia para esse rancho a marcha Homenagem à imprensa. E mostrando fertilidade,
no mesmo ano colaborava no Carnaval do Miséria de Fome, da rua de Santa Luzia,
com a marcha
Nossa glória, e no do Arrepiados de Laranjeiras, com a intitulada
Ideal vencido. Sempre requestado, em 1932, a pedido do presidente Antonio Bernardo, estava no bloco Tomara que Chova, de Botafogo, como seu diretor-técnico, mas continuava versejando novas composições. Pôde, desse modo, escrever para o Recreio das Flores, da Saúde, em 1936,
llusão de artista e, após um hiato de doze anos,
Nova capital do Brasil, cantada pelo União dos Caçadores quando de sua exibição em 1948.
Também sambista e revisteiro
Jornalista de profissão e excelente poeta, fazendo versos pomposos, alegóricos,
bem ao gosto dos ranchos que os queriam com vocábulos preciosos, com palavras
difíceis (rosicler, lirial, melopéias etc.). Prazeres foi um ‘marchista’ dos
mais brilhantes. Seguiu a mesma linha dos expoentes: Antenor de Oliveira,
Napoleão de Oliveira, Pedro Paulo, Bonfiglio de Oliveira, Álvaro Sandim, Sady
Bandeira e poucos mais de uma lista no muito numerosa. Mas embora seu forte
fosse a marcha-de-rancho, deixou também na sua bagagem litero-músico-carnavalesca, com autoria consignada a K. Peta e Rimus Prazeres, alguns sambas e revistas teatrais. No grupo daqueles (os sambas) destaca-se o
É daqui! com o qual o Flor do Abacate glosava os seus rivais Caprichosos da Estopa, Lírio do Amor etc. No destas (as revistas)
Chocolate com torradas,
Média só, e canja!,
Disparates e mais algumas sempre em parceria com Jogo Luiz Pereira (Patativa).
Desse modo, longe de sua autêntica biografia, recordou-se um antigo
carnavalesco que, na imprensa e como participante dos bonitos ranchos de outrora,
muito contribuiu para os festejos de Momo na terra carioca. Autor de primorosas
marchas-de-rancho que, infelizmente, como as de outros compositores
especificamente dedicados a esse gênero de música popular, não tiveram quem as
recolhesse para a posteridade nem merecia a rememoração ora feita, Primitivo
Rimus Rodrigues Prazeres ou Rimus Prazeres na abreviatura que usava, o cronista
K. Peta foi sem favor, como está no título, um grande ‘marchista’ a serviço dos
muitos ranchos, dando-lhes as bonitas canções entoadas às suas passeatas.
(O Jornal, 11/04/65)
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Fonte: Figuras e Coisas do Carnaval Carioca / Jota Efegê: apresentação de Artur da Távola. —2. ed. — Rio de Janeiro: Funarte, 2007. 326p. :il.