sexta-feira, dezembro 13, 2013
Alô, alô, André Filho
“Bamboleio”, “Alô, Alô”, “Cidade Maravilhosa”, como cartaz de um compositor, já não é mal.... Poderíamos juntar dezenas de outros sucessos, em sambas, marchas, canções, valsas, e teríamos o perfeito retrato de André Filho, compositor dos mais antigos do nosso meio radiofônico que, desde os saudosos tempos de Sinhô, vem, com as suas músicas, animando o Carnaval carioca e enchendo de alegria a “Cidade Maravilhosa”.
André Filho, hoje, não é um nome, apenas do Brasil. A sua fama, já atravessou as fronteiras e as suas músicas tem tido grande aceitação e sucesso em Buenos Aires. Na sua viagem, realizada há dois meses, conquistou expressivo sucesso, como cantor e intérprete de suas músicas. Chegou mesmo a gravar um disco em Buenos Aires, acompanhado pela orquestra Santa Paula Serenaders, um dos bons conjuntos de “jazz” existentes na capital argentina.
A música de André, caracteriza-se, antes de tudo, pela ausência completa de tudo o que seja local: as suas marchas podem ser cantadas por um paulista, tão bem como por um uruguaio. Nelas não se vê referências a Salgueiro, Mangueira, etc. Nota-se também que André tem preocupação em relação às letras, incluindo nelas termos de gíria, uma vivacidade toda especial. E grandes fatores do seu sucesso.
Este ano, André chegou atrasado para o Carnaval. Buenos Aires prendeu-o até outubro e daí a sua falta de tempo para preparar as suas composições. Ainda lançará cinco músicas: “Teu cabelo ainda quero pintar”, marcha; “S. O. S.”, marcha cantada por Sônia de Carvalho; “Quero ver você sambar”, samba, cantado por Aurora Miranda; “Bacharéis do amor”, marcha, também cantada por Aurora Miranda, e, finalmente, “Cadê a minha Colombina?”, que possui toda a simpatia e a esperança do autor.
“Cadê a minha Colombina?” tem música interessante e a letra é bastante carnavalesca:
“Minha Colombina
Vem consolar seu tristonho Pierrot,
Eu já não ouço a canção divinal
Que cantava pelo Carnaval.
1a parte
Perdi a minha Colombina,
A minha Colombina original
Cadê a minha Colombina multicor,
Que era o meu terno Carnaval?" (Bis)
André havia terminado de cantar sua marchinha, quando, à queima-roupa, lançamos a pergunta:
— Como vamos de Carnaval?
— Estou achando muito desanimado. Não há “batalhas”. Os bailes estão fracos... É possivel, porém, que isso seja devido ao estado de espírito em que se encontra o povo. As minhas músicas saíram tarde e creio que dificilmente podem lutar contra Benedito Lacerda, Ary Barroso, Heitor dos Prazeres e Noel Rosa, sem dúvida os mais fortes concorrentes em 1936.
— De todas as suas músicas, qual a predileta?
— “Cidade Maravilhosa”. Deu-me grande nome e foi das mais queridas no Brasil inteiro. Fiz essa música porque achava que se devia cantar a cidade mais linda do Brasil. Inspirei-me no poema de Olegário Mariano, bem como na frase de Orestes Barbosa, que Cesar Ladeira tornou conhecida em todo o Brasil. Achando a frase ótima, julguei que devia fazer com que ela bailasse no coração dos cariocas. Fiz a letra e logo depois a música. Aliás, geralmente, faço assim: primeiro a letra; é o método infalível para que se consiga obter frases interessantes, em que exista algum nexo.
— Ainda se recorda de sua primeira composição?
André pensou um pouco e respondeu:
— Denominava-se “Suave tortura” e era uma valsa que fiz ainda criança. Quando cresci, “retoquei-a” e consegui mesmo edita-la. Teve grande sucesso, nas orquestras dos cinemas, no tempo em que os filmes não eram sincronizados e em que Mae Murray e Francisca Bertini arrastavam multidões às casas de espetáculo...
Começamos a recordar aqueles velhos tempos do Odeon, com as suas duas salas de espetáculo, quando fomos obrigados a interromper a evocação, em virtude de haver muita gente, no estúdio, que já estava de lenço na mão, dispondo-se a enxugar alguma lágrima teimosa...
Fonte: "Carioca", de 25/01/1936.
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