sexta-feira, março 23, 2018

Toada - Boca Livre

Formado por Zé Renato, Cláudio Nucci, David Tygel e Maurício Maestro, o conjunto vocal e instrumental Boca Livre chegou ao disco com um elepê independente que tinha o nome do grupo. Chegou e logo entrou nas paradas de sucesso com a canção “Toada”, a melhor de um repertório em que qualquer das músicas recomendava a compra do disco.

“Toada” começou a ser cantada quando o quarteto participou, ao lado de Edu Lobo, de uma temporada do Projeto Pixinguinha, da Funarte, em 1979. Acontece que a música foi tão bem acolhida pelo público que o grupo, àquela altura apenas com dois números ensaiados, teve que formar repertório às pressas, a fim de atender aos pedidos de bis. A etapa seguinte seria a gravação do disco, produzido com dinheiro emprestado e vendido durante os shows nos teatros Vanucci e Ipanema, a partir de janeiro de 80.

Com o sucesso, a pequena tiragem inicial logo esgotou, tendo que ser várias vezes repetida, fazendo do elepê o primeiro independente a se tornar best-seller no Brasil. Dosando com equilíbrio os vocais e as passagens individuais, o Boca Livre apresentou de saída uma personalidade que outros conjuntos levam tempo para adquirir.

Daí boa parte do êxito de “Toada”, uma despretensiosa cantiga à moda sertaneja (“Vem morena ouvir comigo esta cantiga / sair por esta vida aventureira / tanta toada eu trago na viola / pra ver você mais feliz...”), interpretada com graça e competência por um conjunto de cidade grande (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Toada (Na Direção do Dia) (1980) - Zé Renato, Cláudio Nucci e Juca Filho - Intérprete: Boca Livre

LP Boca Livre / Título da música: Toada (Na Direção do Dia) / Zé Renato (Compositor) / Cláudio Nucci (Compositor) / Juca Filho (Compositor) / Boca Livre (Intérprete) / Gravadora: Independente / Ano: 1979 / Nº Álbum: BL-001 / Lado A / Faixa 2 / Gênero musical: Toada.


  G                  Am7
Vem morena ouvir comigo essa cantiga
F              G          C7+
Sair por essa vida aventureira
                 A7         D 
Tanta toada eu trago na viola 
    G/B   Gm/Bb     C  G
Prá ver  você  mais feliz
                  Am7
Escuta o trem de ferro alegre a cantar
F               G               C7+
Na reta da chegada prá descansar
              A7           D       C   G
No coração sereno da toada, bem querer
    F#                  Bm
Tanta saudade eu já senti, morena
         A           D   
Mas foi coisa tão bonita 
   F#          Bm       C    G
Da vida, nunca vou me arrepender
                Am7
Morena, ouve comigo essa cantiga
F              G          C7+
Sair por essa vida aventureira
                 A7        D 
Tanta toada eu trago na viola 
    G/B  Gm/Bb    C  G
Prá ver você mais feliz

Manacéia - Biografia

Manacéia ou Manacéa (Manacé José de Andrade), compositor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro em 26 de agosto de 1921 e faleceu em 10/11/1995. Irmão dos sambistas Aniceto e Mijinha, com cinco anos já freqüentava os grupos que deram origem ao G.R.E.S. da Portela, e aos oito já participava dos desfiles. Pouco depois passou a tocar tamborim na bateria.

Começou a compor aos 18 anos e, graças à influência de Mijinha, teve seu primeiro samba cantado na Portela. Sua primeira música gravada foi Minha querida (com Francisco Santana), em 1957. No período entre 1942 e 1952, compôs alguns sambas-enredo para a Portela, entre os quais Descoberta do Brasil (com Risadinha), 1952.

Chegou às paradas de sucesso em 1974, com a regravação feita por Cristina de seu samba Quantas lágrimas, que havia passado despercebido quando gravado por Paulinho da Viola, em 1970, no LP da RGE Portela, passado de glória, que reunia a velha guarda da escola.

Participou de shows no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Seus maiores sucessos incluem Sempre teu amor (1962), Volta meu amor (1977), Carro de boi (1978), Quando quiseres (1981) e A natureza (1983).

Obras

Amor proibido, 1990; Brasil de ontem, 1952; Flor do interior, 1990; Inesquecível amor, l99l; Manhã brasileira, 1977; Nascer e florescer, 1962; Pagode do Lima, 1987; Portela, você me trouxe a paz, 1977; Quantas lágrimas, 1970; Sem teu amor, 1962; Vem, amor, 1976.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Quantas lágrimas - Cristina Buarque

Em setembro de 1970, a RGE lançou o antológico elepê Portela, passado de glória, produzido por Paulinho da Viola, no qual a Velha Guarda de Portela registrou uma seleção de composições de seus mais ilustres integrantes. Uma das faixas do disco era o samba “Quantas Lágrimas”, de Manacéia (Manacéia José de Andrade), que com os irmãos Aniceto e Mijinha, também sambistas históricos, pertenceu ao núcleo que fundou o Grêmio Recreativo Escola de Samba da Portela.

Quatro anos depois, incluído pela cantora Cristina, irmã de Chico Buarque, em seu elepê de estréia, “Quantas Lágrimas” tornou-se o grande sucesso do disco. Com sua letra romântico-ingênua (“Ai, quantas lágrimas eu tenho derramado / só em saber que não posso mais / reviver o meu passado...”) e uma melodia bem ao estilo da dupla Alcebíades Barcelos-Armando Marçal, que representa o que de melhor se fez em matéria de samba na década de trinta, a composição ficou conhecida do público “uns vinte anos depois de pronta”, segundo o autor.

A boa gravação de Cristina tem no acompanhamento músicos como César Faria e trio de percussionistas Elizeu, Luna e Marçal. Manacéia morreu em 10 de novembro de 1995 (A Canção no Tempo – Vol .2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Quantas lágrimas (samba, 1974) - Manacéia - Intérprete: Cristina Buarque

LP Cristina / Título da música: Quantas Lágrimas / Manacéa (ou Manacéia) (Compositor) / Cristina Buarque (Intérprete) / Gravadora: RCA Victor / Ano: 1974 / Nº Álbum: 103.0088 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Samba / MPB.


G                                 E7 
Ah!...Quantas lágrimas eu tenho derramado 
        Am                    D7 
Só em saber, que eu não posso mais 
                   G 
Reviver...o meu passado 
E7                   Am 
Eu vivi cheio de esperança 
        G             Am7          G 
E de alegria....eu cantava...eu sorria ** 
            G7               C 
Mas hoje em dia eu não tenho mais 
Am        D7            G 
A alegria....de tempos atrás 
       Am7      D7               G 
A melancolia...que os meus olhos trazem 
               Am       C7         B7 
Ai!...quantas saudades, a lembrança tras 
     E7                   Am 
Se houvesse retrocesso na idade 
                A7                 D7 
Eu não teria saudade...da minha mocidade 
REPETE ATÉ ** E SEGUE 
            G7               C 
Mas hoje em dia eu não tenho mais 
Am        D7             G 
A alegria....dos tempos atrás 
            G7               C 
Mas hoje em dia eu não tenho mais 
Am        D7            C 
A alegria....dos tempos atrás 
            G7               C 
Mas hoje em dia eu não tenho mais 
Am        D7             C 
A alegria....dos tempos atrás... 

Expresso 2222 - Gilberto Gil

Identificado com o elepê do mesmo nome, básico na discografia de Gilberto Gil e em que se destaca o seu vigoroso punch ao violão, aprimorado durante o exílio londrino, “Expresso 2222” foi lançada inicialmente em um compacto duplo, encartado numa edição especial da revista Bondinho, em fevereiro de 72.

A imagem do expresso está muito ligada a reminiscências do autor, que na infância viajava nos trens da Companhia Leste Brasileiro pelo interior da Bahia. Em seu livro Todas as letras Gil conta que a canção nasceu quando, um dia em Londres, anotou num caderno uma frase fortemente rítmica que lhe veio à mente: “Começou a circular o Expresso 2222, que parte direto de Bonsucesso pra depois.”

O curioso é que este final “pra depois” sugeriu-lhe uma parada imediata, levando-o “a deixar aquilo ali como um vinho, num barril de carvalho, para envelhecer”, só voltando à composição um ano mais tarde. Então completou e musicou “Expresso 2222”, mantendo a linha originária da frase em razão da naturalidade das síncopes iniciais.

“É evidente — afirma Gil — que a idéia da viagem está ligada às drogas, os modificadores e expansores de consciência da época.” A gravação, inteiramente despojada, com violão, percussão e nada mais, é uma expressiva demonstração da vitalidade rítmica do compositor como intérprete, capaz de prescindir de grandes recursos técnicos e instrumentais para produzir um sucesso como este, de longa permanência desde que tenha o seu violão, descendente direto dos violões de Caymmi e de João Gilberto (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Expresso 2222 (1972) - Gilberto Gil - Intérprete: Gilberto Gil

LP Expresso 2222 / Título da música: Expresso 2222 / Gilberto Gil (Compositor) / Gilberto Gil (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1972 / Nº Álbum: 6349 034 / Lado B / Faixa 2 / Gênero musical: MPB.

Tom: C
C                 Bb              F   C              
Começou a circular o Expres----so 2222
                   Em7         Dm7   G7    C
Que parte direto de Bonsucesso pra depois
                  Bb              F     C        
Começou a circular o Expres----so 2222
Da Central do Brasil
                 Bb
Que parte direto de Bonsucesso
F                C
Pra depois do a----no 2000
                         G7
Dizem que tem muita gen-----te de ago----ra
             C
Se adiantan----do, partindo pra lá
        G7
Pra 2001 e 2 e tem---po afo---ra
   C                                    G/F
Até onde es---sa estra---da do tempo vai dar
            Em7    Am7
Do tempo vai dar
            Dm7 G7  Dm7      G7        C
Do tempo vai dar, menina, do tempo vai
                     G7
Segundo quem já andou no Expres---so
                C
Lá pelo ano 2000 fica a tal

                     G7
Estação final do per---curso-vida

                     C
Na terra-mãe concebi---da
                                 G/F
De vento, de fogo, de água e sal
               Em7  Am7
De água e sal
               Dm7  G7
De água e sal
     Dm7      G7     C
Ô, menina, de água e sal
                       G7         
Dizem que parece o bon---de do mor---ro
           C            
Do Corcova---do da---qui
                G7                
Só que não se pe---ga e en---tra e sen---ta e an---da
      C                                              G/F
O tri----lho é fei---to um bri---lho que não tem fim
                    Em7   Am7
Oi, que não tem fim
                Dm7  G7
Que não tem fim
     Dm7       G7      C    
Ô, menina, que não tem fim
                       G7                
Nunca se chega no Cris---to concre---to
                           C
De matéria ou qualquer coi---sa real
              G7        
Depois de 2001 e 2 e tem---po afo---ra
       C                                         G/F  
O Cris---to é como quem foi visto subindo ao céu
               Em7  Am7
Subindo ao céu
             Dm7 G7      C           
Num véu de nu-----vem brilhante subindo ao céu

Eu quero é botar meu bloco na rua - Sérgio Sampaio

Sérgio Sampaio
Quem frequentou nos anos setenta e oitenta a noite do Baixo Leblon, na Zona Sul carioca, em especial bares como o Jobi, o Gatão, o Luna e o Diagonal, redutos de artistas e intelectuais boêmios, há de ter cruzado muitas vezes e prestado a atenção na figura exótica do cantor e compositor “maldito” Sérgio Sampaio. Isso porque, com seu porte magérrimo, seu cabelão comprido e seu comportamento bizarro, sempre bebendo, cantando ou gargalhando com espalhafato, ele jamais poderia passar despercebido ao mais distraído habitué do lugar.

Sérgio deixou várias composições, mas, somente um grande sucesso, “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, finalista do VII FIC e que é uma espécie de marcha-rancho, confessional (“Há quem diga / que eu fugi da raia / que eu morri de medo / quando o pau quebrou”), que culmina num vibrante estribilho: “Eu quero é botar meu bloco na rua / brincar, botar pra ferver / eu quero é botar meu bloco na rua / gingar, pra dar e vender.”

Tais características a incluem entre as boas canções de protesto da época, embora o autor não tenha chegado a ser um especialista do gênero. Primo do também cantor e compositor Raul Sampaio, Sérgio morreu em 1994, aos 47 anos, tendo gravado quatro elepês (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua (1972) - Sérgio Sampaio - Interpretação: Sérgio Sampaio

LP O Carnaval Chegou! / Título da música: Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua / Sérgio Sampaio (Compositor) / Sérgio Sampaio (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1972 / Nº Álbum: 6349 058 / Lado B / Faixa 7 / Gênero musical: Marcha-rancho / Carnaval.

A7       Dm                  C
Há quem diga que eu dormi de touca
                Bb                    A7
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
               Gm                   Dm7
Que eu caí do galho e que não vi saída
                E7                    A7
Que eu morri de medo quando o pau quebrou

          Dm7                    C
Há quem diga que eu não sei de nada
                   Bb                 A7
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
                  Gm                      Dm7
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
               E7            A7
E que Durango Kid quase me pegou

Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero todo mundo nesse carnaval... 

  Dm7      C              
Eu quero é botar meu bloco na rua    BIS
Bb      A7
Gingar, pra dar e vender