Bernardo Vilhena (Bernardo Torres de Vilhena), poeta e letrista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 10/01/1949. Fundador e editor das revistas
Ponte e
Malasarte, pertenceu ao grupo de poeta Nuven Cigana, do qual também participavam Chacal, Ronaldo Bastos, Guilherme Mandaro, Charles, Ronaldo Santos, entre outros. Trabalhou como redator de publicidade e publicou em 1975
O rapto da vida, participando, mais tarde, da antologia
26 Poetas Hoje (Heloísa Buarque de Hollanda, Editora Labor, em 1976) e publicou o livro
Atualidades Atlânticas (Poesias) em 1979 pela Nuven Cigana.
Foi incluído no livro
Retrato de Época/Poesia Marginal Anos 70 (Carlos Alberto Messeder Pereira/ MEC Funarte) e em 1982 no livro
Poesia Jovem Anos 70 (Literatura Comentada/ Abril Cultural). Fundou a gravadora Regata na década de 1990 pela qual lançou vários artistas, entre eles a cantora Paula Lima.
No início da década de 1980, Lulu Santos (assinando Luís Maurício) gravou em compacto simples
Gosto de batom, parceria com Lulu Santos e Pedro Fortuna. No ano de 1983
Ritchie incluiu diversas parcerias de ambos no LP
Voo de coração, que emplacou vários sucessos, entre os quais
Pelo interfone,
Pra conversar,
Casanova e, principalmente,
Menina veneno, uma das músicas mais tocadas nos meios de comunicação no ano de 1983, e que posteriormente seria regravada com sucesso pela dupla Zezé di Camargo e Luciano. O compacto com
Menina veneno vendeu 500 mil cópias e o disco, no qual ela também estava incluída, 700 mil cópias.
Em 1986, Cláudio Zoli gravou seu primeiro LP solo, disco no qual incluiu
Na chuva, parceria de ambos. No ano seguinte
Lobão incluiu várias parcerias de ambos no LP
Vida bandida, entre as quais:
Esse mundo que eu vivo,
Chorando no campo,
Nem bem, nem mal e a faixa-título V
ida bandida.
No ano de 1988
Cazuza gravou
Vida louca vida, (c/ Lobão) no disco ao vivo
O tempo não pára. Nesse mesmo ano Cláudio Zoli gravou
Criminoso sutil (c/ Cláudio Zoli e Ronaldo Santos).
Em 1991, no disco
Fetiche, Cláudio Zoli incluiu "Dinheiro", parceria de ambos.
No ano de 1999, no CD
Férias, Cláudio Zoli registrou várias parcerias de ambos:
Houve,
Na rede,
Vivo nesse mundo,
Quando a cidade dormir,
Sem dizer adeus,
Vida, viração,
Zoli show,
Pista vazia e
Juro por mim, essa última contando também com o parceiro Lucas.
Em 2001 Paula Lima gravou
Perdão talvez (c/ Ed Motta e Paula Lima) em seu CD de estreia:
É isso aí, pelo Selo Regata.
No ano de 2002, Mario Adnet lançou no Mistura Fina o disco
Rio carioca, CD no qual constam duas parceria de ambos:
A dona do lugar e
Moças do mar. Neste mesmo ano seu parceiro Ritchie lançou o CD
Autofidelidade, disco no qual incluiu
Jardim de guerra e
Sede de viver, as duas parceria de ambos, esta última, também com versão em inglês, batizada com o nome
Running for our lives.
Obra
A dona do lugar (c/ Mario Adnet),
Amar até morrer (c/ Cláudio Zoli),
Amor demais (c/ Cláudio Zoli),
Baby lonest (c/ Cazuza e Ledusha),
Baile nessa onda (c/ Cláudio Zoli),
Casanova (c/ Ritchie),
Chorando no campo (c/ Lobão),
Crianças (c/ Cláudio Zoli),
Criminoso sutil (c/ Cláudio Zoli e Ronaldo Santos),
Da natureza dos lobos (c/ Lobão),
Dinheiro (c/ Cláudio Zoli),
Esse mundo que eu vivo (c/ Lobão),
Flor do futuro (c/ Cláudio Zoli),
Gosto de batom (c/ Lulu Santos e Pedro Fortuna),
Houve (c/ Cláudio Zoli),
Jardim de guerra (c/ Ritchie),
Juro por mim (c/ Cláudio Zoli e Lucas),
Livre pra viver (c/ Cláudio Zoli),
Menina veneno (c/ Ritchie),
Moças do mar (c/ Mario Adnet),
Na chuva (c/ Cláudio Zoli),
Na rede (c/ Cláudio Zoli),
Nem bem, nem mal (c/ Lobão),
Perdão talvez (c/ Ed Motta e Paula Lima),
Pista vazia (c/ Cláudio Zoli),
Pra conversar (c/ Ritchie),
Quando a cidade dormir (c/ Cláudio Zoli),
Quero te amar (c/ Cláudio Zoli e Paulo Zdan),
Running for our lives (c/ Ritchie),
Sede de viver (c/ Ritchie),
Sem dizer adeus (c/ Cláudio Zoli),
Sem explicação (c/ Cláudio Zoli),
Sem limite (c/ Cláudio Zoli),
Show business (c/ Cláudio Zoli),
Tudo veludo (c/ Lobão),
Último beijo (c/ Cláudio Zoli),
Um aviso (c/ Cláudio Zoli),
Vida bandida (c/ Lobão),
Vida, louca vida (c/ Lobão),
Vida, viração (c/ Cláudio Zoli),
Vivo nesse mundo (c/ Cláudio Zoli),
Zoli show (c/ Cláudio Zoli).
Meio bossa nova e rock’n’roll
Parceiro de Lobão e Mario Adnet, o poeta, produtor e curador Bernardo Vilhena lança série de shows com novos artistas e prepara reedição de sua obra com direito a livro inédito
(Por Leonardo Lichote)
Bernardo Vilhena começou a escrever poesia na garagem vazia da casa de uma namorada, na Praça Nossa Senhora da Paz. No espaço, ela construíra uma espécie de bunker pop – era 1967, ele tinha 18 anos – com mesinha com máquina de escrever e pôsteres de rockstars pelas paredes. No ambiente classicamente moldado para o nascimento de um power trio de garotos tocando rock, Bernardo criava seus primeiros poemas. Românticos. O deslocamento daquele personagem naquele local, mais tarde se veria, era ilusório. Ali, o poeta dava início a uma trajetória que passaria pelo revolucionário coletivo de poesia Nuvem Cigana, pelo rock brasileiro da década de 1980, pelo pensamento em torno da arte contemporânea, pelas mudanças que a tecnologia digital trouxe ao mundo da música. Naquela máquina de escrever, ele fazia seu power trio solo – que, nada ortodoxo, se permitia incursões pela bossa nova.
- Sou de Ipanema, ouço rock desde sempre, assim como bossa nova. Sempre associei essa coisas do peace & love, do flower power, a “O amor, o sorriso e a flor” – conta o poeta, autor de hits como “Vida bandida” (com Lobão) e “Menina veneno” (com Ritchie). – O tipo de música que faço hoje com Mario Adnet (compositor herdeiro da tradição da bossa nova e da MPB mais clássica) é o que sempre sonhei fazer.
Um garoto romântico e bossanovista que se tornou rocker, depois voltou à bossa… A trajetória linear não se encaixa na biografia de Bernardo – que compôs até uma ópera com o maestro Silvio Barbato, “O cientista”, sobre Oswaldo Cruz. Sua poesia urbana e contemporânea, em poemas, canções e mesmo em atividades como produtor ou curador, contempla um tudo-ao-mesmo-tempo-agora “meio bossa nova e rock’n'roll”, como cantou outro poeta de sua geração. Seu agora, portanto, inclui a reedição de seus livros pela Azougue (num volume único que trará ainda o livro inédito “Prazer e compulsão”), outro projeto pela editora (“Vou ser entrevistado para falar sobre algumas coisas que vivi e que penso”), a ideia de erguer “contêineres de poesia” sensoriais e viajar com eles, o Copa Fest (festival de música instrumental pelo qual já passaram artistas como Hermeto Pascoal e Marcos Valle) e a série de shows Live PA, que ocupa o CCBB de Brasília ao longo do mês de maio (estará em São Paulo em agosto e no Rio em 2012) com atrações como Moreno Veloso & Nina Becker, Pedro Sá e & Jonas Sá e China & Silvia Machete – duplas reunidas no palco com um computador fazendo o meio de campo entre elas.
- Tenho um poema em que falo do “espetáculo das novas gerações”. Minha geração era aquela, dos 1970, 1980. Fico extremamente feliz de ser um espectador agora – diz Bernardo, que atuou junto aos novos em outros momentos, como ao fundar a gravadora Regata, pela qual lançou Seu Jorge e Paula Lima no início dos anos 2000, e ao se tornar o principal parceiro de Max de Castro no importante CD de estreia do compositor, “Samba raro”.
Poesia fora da estante
Bernardo remonta à adolescência para falar do Live PA:
- Fiz um curso na IBM em 1966 e comecei a me interessar por computador, li livros que já falavam em transporte de informação. Ia fazer faculdade de Letras, mas disse a meu pai: “Não vou para a faculdade, está rolando uma revolução e quero estar nela.” Hoje, a tecnologia, mais que a distribuição ou a gravação, mudou a forma de se fazer música, com a troca de arquivos, a composição que já é feita com o arranjo do computador… Queria levar isso para o palco.
Ao abandonar a ideia da faculdade, Bernardo se lançou nas artes gráficas, virou frequentador assíduo do Museu de Arte Moderna e cruzou interesses com artistas plásticos, como Cildo Meireles, Carlos Vergara e Rubens Gerchman – o poeta foi um dos editores da histórica revista “Malasartes”, que marcou época ao refletir de forma livre e irreverente sobre a arte contemporânea. E foi pelas artes gráficas que ele chegou a colegas que formariam com a ele a Nuvem Cigana, em 1975.
- Eu estava para publicar o “América” (seu terceiro livro) e precisava de ajuda com a parte gráfica. Vergara me indicou o Bernardo – lembra o poeta Chacal. – Ele me levou a uma gráfica em São Cristóvão para ver orçamento e tal. Começamos a conversar, ele falou que fazia poesia e me mostrou “Vida bandida”. Rolou uma empatia imediata. Ele tinha a mesma gíria, a mesma vivência da gente. Essa coisa urbana, meio delinquente, a vivência da Zona Sul, uma crônica de um segmento da cidade mais pop, ligado a drogas, noite, arte, boemia. A vida bandida.
Chacal convidou-o para o grupo de poetas que se encontrava em Santa Teresa. Sairia dali a Nuvem Cigana – que, além de Bernardo e Chacal, reunia nomes como Ronaldo Bastos, Charles Peixoto e Pedro Cascardo. Ao levar a poesia para as ruas do Rio dos anos 1970, sobretudo com os encontros conhecidos como Artimanhas – que reunia personagens como os integrantes do Asdrúbal Trouxe o Trombone e o dramaturgo Vicente Pereira (um dos fundadores dos besteirol) -, o grupo plantou sementes para fenômenos como o rock 80.
- Dois caras fundamentais para mim foram Ferreira Gullar, com seu trabalho no Teatro Opinião, e Vinícius de Moraes, pela bossa nova. Eram artistas que estavam tirando a poesia da estante, um pelo teatro, outro pela música – lembra Bernardo.
No rock, ele tem a oportunidade maior de tirar a poesia da estante e levá-la para a rua, que ele sabia ser maior que a Zona Sul, após morar no Jacaré por quatro anos da adolescência:
- Ia aos bailes do clube Magnatas (no Rocha) ver Ed Lincoln, essas coisas. Tinha um ônibus, o 25, que hoje é o 474, que era a minha vida: Jacaré-Ipanema.
Entre as duas pontas, fez canções extremamente radiofônicas, mas cheias de referências.
- Ninguém falava dessas citações, e eu também nunca achei importante chamar a atenção, porque a canção popular não depende disso, não trabalha nessa lógica – defende Bernardo. – “Menina veneno” cita um trabalho de Regina Vater, naquele verso “Em toda cama que eu durmo, só da você”. A obra era uma série de postais com camas de diversas cidades do mundo (a série “Camas around the world”). “Dinheiro”, com Cláudio Zoli, se refere ao “Zero dollar”, de Cildo Meireles.
Ritchie louva exatamente a camadas na poesia do parceiro:
- A primeira leitura de algo seu é simples. Mas se você mergulha na palavra descobre mil brincadeiras, muita riqueza. “Menina veneno” pode ser lido como uma cena de breguice enorme, mas por outro lado é baseada num arquétipo junguiano. Há versos como “Do princípio ao sim”, que muita gente canta como “ao fim”, ou “Perdi a condição”, que muitos pensam que é “condução” (em “A vida tem dessas coisas”). E sem deixar de ser assumidamente música pop. É Borges muito pop.
Parceiro no mesmo período, Lobão é bem mais econômico ao falar de Bernardo, com quem assinou “Vida bandida” e “Chorando no campo”, entre outras. Por e-mail, o cantor respondeu de forma seca:
- Não tenho nada a declarar sobre o assunto.
Bernardo – que diz não ter lido a biografia de Lobão, da qual é personagem – comenta:
- Não sei qual é o problema dele. De qualquer forma, é uma pessoa que representa uma parte pequena da minha história. Não li seu livro e não vou ler, não costumo ler biografias. Já tenho que reler tantos livros, não vou ler coisas da minha vida contadas sei lá como.
Num momento de longa conversa sobre sua história e seus projetos, ele faz a citação que soa como conclusão – da polêmica e de todo o resto:
- Como dizia Borges, o passado é algo tão difícil de se decifrar quanto o futuro.
Fontes: Dicionário Cravo Albin da MPB; O Globo – Segundo Caderno, 21/5/2011.