Natural de Olinda, a ex-professora iniciaria uma promissora carreira na Rádio Jornal do Commercio como rumbeira e radioatriz. Morena bonita, alta, corpo violão, olhos claros, descendente de espanhóis, dificilmente se poderia pensar que ela se enamorasse de Jackson do Pandeiro, um paraibano, baixinho, de físico mirrado, feio por qualquer padrão de beleza a que fosse comparado. E mais: nem era ainda famoso, estava contratado pela rádio como simples pandeirista.
Porém, assim como era exímio intérprete de frevos, cocos, xotes e o que mais viesse, o paraibano era também bom de papo e, logo, ele e Almira Castilho não apenas namoravam como começaram uma das mais famosas duplas da música brasileira. Uma parceria que durou 12 anos e foi responsável por uma série invejável de sucessos que até hoje ecoam pelo Brasil afora: 1x1, A mulher do Aníbal, Forró em Limoeiro, dentre muitos outros.
Naquele mesmo ano a dupla começou a fazer apresentações. Quando viajavam ficavam em quartos separados, "Eu ainda era virgem", faz questão de ressaltar Almira, garantindo que Jackson do Pandeiro só dormiu na mesma cama em que ela depois de casados", brinca e relembra o cuidado que Jackson do Pandeiro dedicava à noiva, numa viagem que fizeram ao interior, para um show em uma vaquejada.
"Depois da apresentação nós fomos para o hotel. Quando me preparo pra dormir, avistei uma barata enorme e soltei aquele grito. Em um segundo, Jackson estava batendo na minha porta, abro e lá está ele com a maior peixeira na mão."
Recife era então a terceira maior cidade do país, e com um dos maiores conglomerados de comunicação do Brasil, comandado pelo senador F. Pessoa de Queiroz, que reunia dois jornais, uma TV e várias emissoras de rádio. Isto implicava que o artista que fazia sucesso aqui tinha fama espalhada por diversas regiões da federação. Dava para inclusive viver da profissão sem deixar o Recife.
Foi exatamente a fama da dupla que fez com Almira Castilho e Jackson do Pandeiro fossem obrigados emigrar para o Rio.
Jackson, Almira e o conjunto que os acompanhavam foram contratados para animar uma festa nos jardins da mansão do presidente do Náutico, Eládio Barros de Carvalho. O episódio que aconteceu naquela noite ficou meio lendário, e muita gente teima que aconteceu na sede do Clube Náutico.
Os rapazes vidrados na dança de Almira Castilho, que usava por baixo da saia rodada, uma espécie de perneira, exigência do marido. Enquanto Jackson do Pandeiro desfiava seus sucessos, Almira dançava e os rapazes, aditivados por scotch e lança-perfume começaram a pegar nos tornozelos dela. Jackson do Pandeiro, enciumado, pediu para a mulher maneirar mais no rebolado e afastar-se dos "playboys".
Mas não adiantou muito. O assédio continuou e de repente era como se o Forró em Limoeiro virasse um Forró nos Aflitos. De repente, Jackson do Pandeiro e seu conjunto distribuíam pernadas entre o distinto público, mas estavam inferiorizados em número. Agredidos a pontapés, socos, cadeiradas eles foram obrigados a bater em retirada. Almira Castilho recorda que ela e o Jackson escaparam do linchamento saltando o muro da mansão: "Quando chegamos do outro lado foi que notei que um dos olhos dele estava fora do globo ocular, pendurado."
O caso foi muito comentado na cidade mas discretamente abordado pela imprensa. Afinal, pela ótica conservadora de então, os agredidos tinham sido dois simples artistas de rádio, enquanto os demais envolvidos era a fina flor da high society pernambucana. De vítima a dupla passou a vilã.
Não houve nenhuma solidariedade vinda dos patrões de Almira Castilho e Jackson do Pandeiro. Os dois decidiram então rescindir contrato com a rádio, o que para o senador Pessoa de Queiroz foi tomado quase como uma afronta pessoal. Ele acabou liberando o casal, mas os discos deles durante muito tempo entraram no index da emissora, que ignorou os sucessos de Jackson do Pandeiro e Almira mesmo quando eles viraram ídolos nacionais.
Almira Castilho e Jackson do Pandeiro |
Uma das principais recordações de Almira Castilho em relação a Jackson do Padeiro é o ciúme: "Quando morávamos no Rio, ele nunca me deixou tomar banho de mar em Copacabana, porque não queria que eu colocasse maiô. A única vez que permitiu foi em um passeio de barco no Amazonas, onde estávamos fazendo show, mas biquíni nem pensar".
Almira ensinou o marido a ler e a escrever. Era o eixo dele em termos profissionais e emocionais. Era também empresária e tesoureira, e enquanto isso ele ficava livre para só pensar em música.
Almira Castilho e Jackson do Pandeiro separaram-se em 1967, após 12 anos de união. Com o fim do casamento, a dupla se desfez. Fizeram uma dupla de sucesso, ele cantando e ela dançando ao seu lado, tendo participado de dezenas de filmes nacionais. A paixão por Almira era tão grande que Jackson chegou a colocar várias músicas no nome dela. Em seguida, Jackson casou-se com a baiana Neuza Flores dos Anjos, de quem também se separou pouco antes de falecer.
O autor da biografia de Jackson Pandeiro, Fernando Moura, conta que existem mais de 30 composições atribuídas a Almira Castilho, algumas feitas depois do fim do casamento com Jackson. Embora ela não tenha continuado com a mesma projeção que tinha ao lado dele, a separação não interrompeu a carreira de Almira como cantora, comediante e dançarina, que morou muito tempo na Europa e que depois residiu no Recife.
Sobre a música Chiclete com Banana, Fernando Moura perguntou a Almira da parceria. Ela confirmou e até narrou o encontro. Gordurinha chegou com a melodia e a letra já esboçadas. Jackson ficou à parte e eles finalizaram a obra.
Por outro lado, ainda segundo Fernando Moura, Neusa, a segunda mulher de Jackson, diz que o compositor costumava registrar músicas no nome de parentes como um legado para garantir uma renda futura ao beneficiado. As de Neusa, que admite não entender nada de música, foram as composições com autoria atribuída a um tal de Mascote.
Outro aspecto que levava Jackson a "diversificar" a autoria das composições era a falta de confiança no sistema arrecadador das sociedades de autores. É por isso que ele tem obras registradas com o nome artístico e outras como José Gomes - em sociedades diferentes.
No cinema, Almira Castilho participou dos filmes Bom Mesmo É Carnaval (1962), Aí Vem a Alegria (1960), O Viúvo Alegre (1960), Pequeno por Fora (1960), Minha Sogra É da Polícia (1958), O Batedor de Carteiras (1958), Cala a Boca, Etelvina (1960) e Rio à Noite (1962).
Almira faleceu enquanto dormia, aos 87 anos, na cidade de Recife, na madrugada de 26/2/2011. Sofria do mal de Alzheimer há dois anos.
Fonte: Enciclopédia Nordeste - Almira Castilho.
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