"Os ritmos vão criando paisagens e, enquanto o ouvido se perde no curso livre da onda lírica, o olhar se enriquece do panorama local que vai se levantando pela força da persuasão melódica. Assim, a música de Hekel Tavares não enche somente nossos ouvidos de acordes agradáveis: também nos enche os olhos de imagens deliciosas...
E do seu conjunto vem, naturalmente, essa ideia de mata soturna, em que o sol não consegue penetrar, dourando apenas o cimo das árvores. Isso pela predominância da misteriosa tristeza dos motivos agrestes, que formam a estrutura da ceração sonora de Hekel, por onde passa, de vez em quando, bem de leve e no alto, um frêmito de alegria doida e clara, como na página festiva de D. Domitília.
Mas, já em Mamãe preta geme toda a escravidão com o trabalho sem fim dos dias escuros e com a vistosa aristocracia dos "sinhôs-moços", a quem, por desvio da maternidade submissa, as negras entregam toda a sua ternura deslumbrada. E em Sapo Cururu esboçam as gordas lagoas noturnas dentro do deserto verdejante, cortado de gritos indecifráveis, e de onde de levantam, com a cumplicidade dos luares solenes, assombrações e arrepios..." (Chronica Social - Correio Paulistano)
Sapo cururu (acalanto, 1929) - Hekel Tavares e letra de Olegário Mariano - Intérprete: Francisco Alves - Disco selo Odeon, 1929 - Gênero musical: canção / acalanto - Nº Álbum 10365 - Data de lançamento: 1929 - Lado A.
"Sapo Cururu
Na beira do rio
Quando o sapo canta, maninha
Diz que está com frio..."
Na casa grande do engenho
Preta véia tá cantando
Prá sinhozinho drumi
Sarta o bacurao na estrada
E a lua entra na ginela
Parece que vem ouvi.
Preta véia então se alembra
Da vida que ali viveu
Deu o peito a Sinhô-Moço
E na rede de seus braço
Seu Sinhô-Moço cresceu.
Hoje cria Sinhozinho
Branquinho que nem jasmim
Tem sempre os óinho aberto
Só drome quando se canta
Preta véia canta assim:
Sapo Cururu
Na beira do rio
Quando o sapo canta, maninha
Cururu tem frio...
Na casa grande de engenho
Preta véia tá cantando
Pra Sinhozinho drumi...
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Fonte: Música Popular Brasileira - Mariza - Jornal do Brasil, de 24/01/1937; Correio Paulistano de 17/04/1928.
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