O cantor Paraguaçu a levou ao maestro Gaó, que atuava na rádio Cruzeiro do Sul, que também irradiava para o Rio de Janeiro. Especializou-se em interpretar canções folclóricas brasileiras.
Para saber mais detalhes sobre a vida dessa artista, tão esquecida pelos "dicionários da MPB", acessem o site Museu da Pessoa, quando foi entrevistada recentemente, em 03/12/2013. À seguir uma reportagem da CARIOCA, de dezembro de 1935:
“Lili... —— Duas sílabas, idênticas e pequeninas, que evocam um mundo imenso de coisas e fantasias. Lili, lembra Carnaval. Sugere logo um “cordão” na Avenida, dançando e cantando:
“Lili, Ó meu bem
Teu amor eu tenho...”
Lili sempre foi motivo de inspiração para os sambistas cariocas, que infelizmente não conhecem a Lili paulista, cantora destacada e de mais futuro da Rádio Cosmos. Lili não tem sobrenome. Quer ser simplesmente Lili. É assim que o “speaker” a anuncia e foi assim que a chamamos para conversar um pouco conosco.
—— Tenho quase um ano de rádio, ora na Cosmos, ora na Cruzeiro, começou ela.
—— Como resolveu e conseguiu entrar para o rádio?
—— Todas as moças que gostam de rádio, tem no íntimo, pode estar certo, um grande desejo de cantar para o microfone para ouvir... Eu como as outras também tinha este desejo. Vontade não me faltava e vivia, assistindo nos estúdios, as transmissões. Uma criatura havia, que me despertava grande entusiasmo e a quem eu considerava um semideus — Gaó. Creio que o dia em que conseguisse falar com ele, seria o maior de minha vida. A oportunidade chegou: um dia ele estava no estúdio e eu gaguejando perguntei-lhe se era difícil cantar no rádio. Respondeu-me que dependia da voz. Fiz a experiência e dias depois, cantava num programa, quatro músicas: uma valsa, um samba, um fox e uma canção. Agradei...
—— Qual destes gêneros prefere?
—— A canção regional. Acho-a encantadora. Tem para mim encantos que dificilmente se podem exprimir. Mais do que qualquer outra música, pode a canção provocar a nostalgia numa criatura. Tem a canção toda a beleza e a grandiosidade do nosso país.
—— Qual, dentre as canções, é a sua predileta?
—— Das compostas exclusivamente para mim, “Pipoca, amendoim torrado”, de Príncipe Bugre. Tem dentro de sua melodia, toda a tristeza e a dolência de nossa alma. A minha predileta é, porém, “Leilão”, de Heckel Tavares, que às vezes chega a me provocar lágrimas...
—— Qual o compositor predileto?
—— Gosto de vários: Heckel, Joubert, Waldemar Henrique, Tupinambá. Creio porém que o primeiro ainda é o predileto, pois conheço e interpreto todas as suas composições.
—— Que pensa do fox americano?
—— Gosto. Acho-o lindo. Parece-me, porém, que não é muito de acordo com o nosso temperamento.
—— E por que não canta foxes?
—— Ao público parece sempre ridículo que uma brasileira cante, em inglês, coisas inglesas. Acham que devemos cantar sempre em português.
—— É então, muito exigente, o público paulista? ...
—— Terrível! Mais que o carioca. No Rio vê-se cantoras, meses e meses, com o mesmo repertório. Em São Paulo, se cantamos a mesma música três dias seguidos, começam logo os telefonemas de protesto.
—— Não tinha desejo de ir para o Rio?
—— Gostaria. O ideal, seria passar seis meses no Rio e seis aqui. Infelizmente, porém, é quase impossível realizá-lo, pois não tenho nenhuma proposta...
Ary Barroso apareceu. Vinha buscar Lili para dar começo à "Hora H", onde ela é figura de relevo e, dentro em pouco, víamos, através dos vidros da PRE-7, Lili tomando parte de um "sketch", e apresentando, assim, mais uma modalidade de sua arte, ainda nova para nós."
Jorge Maia, enviado especial de CARIOCA
Fontes: CARIOCA, de 28/12/1935; Museu da Pessoa, de 03/12/2013.
Grande Ever! Tavam fazendo falta as informações que você garimpa!
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