O caso de Oswaldo Santiago é único no gênero. Ainda não tinha aparecido, no Brasil, um poeta, jornalista e escritor que se tivesse tornado um compositor vitorioso de músicas populares. Pois foi o que ele fez. Depois de haver firmado um indiscutível renome literário com “Gritos do meu silêncio” e “Rio-Rei”, dois dos seus livros mais festejados pela crítica, Oswaldo Santiago passou a escrever letras para canções.
O famoso “Hino a João Pessoa”, musicado por Eduardo Souto, valeu-lhe por uma consagração nacional.
E até o presente momento não foi interrompida a escala cromática dos seus versos para músicas, quer originais, quer vertendo para a nossa lingua textos americanos dos números que vem nos filmes de Hollywood.
—— Mas como e quando começou a compor melodias?
Eis o que Oswaldo Santiago nos respondeu, quando lhe fizemos esta pergunta:
—— Em 1930, querendo servir a um colega de imprensa, Orestes Barbosa, que desejava iniciar-se como autor de letras, compus a melodia da canção “Bungalow”. A sua aceitação, o êxito dessa peça ainda hoje lembrada, de vez em quando, fez com que me animasse a tentar a realização de outras, tendo feito, então, a valsa “Teu sorriso é a minha dor”, sobre versos de Bastos Portella. Depois, havendo me afastado durante algum tempo do meio de cantores e de fábricas gravadoras, não procurei lançar algumas composições produzidas nessa época, dando-lhes o destino bom de não se tornarem, mais adiante, detestadas pelo público...
—— Como voltou a aparecer como compositor?
—— No Carnaval de 1935, quando fiz “Joia falsa” ou “Você me pareceu sincera”, como ficou mais conhecida. Um encontro casual com Gastão Formenti, cinco minutos de cantoria ao ouvido desse intérprete fidalgo e depois, no apartamento de Waldemar Henrique, dez minutos a seguir, a música tocada ao piano e cantada por todos com um entusiasmo de pasmar. Até Mara da Costa Pereira pareceu-me carnavalesca, apesar da sua cor “local” amazônica... Daí por diante nem eu, nem o Gastão Formenti, tivemos dúvida de que a “Joia falsa” tivesse o seu lugar separado no agrado coletivo, no que, como se sabe, não estávamos enganados.
—— Quer dizer que “Joia falsa” lhe deu gosto pelo gênero carnavalesco, não é verdade?
—— Sim e não. Ainda continuo gostando mais de fazer uma valsa ou uma canção, coisas em que se revela melhor o meu temperamento. É verdade que, no gênero, “Joia falsa” já representa, segundo a vaidade do autor, um passo à frente... Mas uma marchinha tem três meses de vida, passa breve, não fica na sensibilidade auditiva dos espíritos mais altos. Uma valsa como “Meu amor por toda a vida”, que fiz com Paulo Barbosa, atravessa anos com a mesma beleza do momento em que foi lançada.
—— Bem. Mas a sua primeira frase foi “sim e não”. O que nos disse depois deve ser o “não”. Falta agora o “sim”...
—— O “sim”, no caso, é o seguinte: o meu nome vai aparecer, no Carnaval de 1936, em cerca de doze composições destinadas à folia. “Querido Adão”, com Benedito Lacerda; “Olé, Carmem!”, com Paulo Barbosa; “Não foi assim”, com Antenógenes Silva: “Tu mereces um beijo”, com Heloísa Santiago; “Escola do amor”, com Walfrido Silva; “Nós dois e nosso amor”, com Isabel Cursio; “Cá estou eu, morena!” e “A guitarra e o violão”, com Vicente Paiva; e “É’ você que eu ando procurando”, com Carminha Balthazar.
Sozinho, fiz “Coração na boca”, no estilo de “Joia falsa”, “Você ainda não me deu” e “Oh, seu turista!... ”, as duas primeiras criadas por Gastão Formenti e a terceira pela dupla Joel e Gaúcho. Não tenho a pretensão de esperar que todas agradem. Nem eu, mesmo, gosto de todas elas. Mas no Carnaval um autor deve jogar tudo o que pode, pois ninguém adivinha de qual o público vai tomar conhecimento.
Fonte: CARIOCA, de 11/01/1936.
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