Pioneiro em todas as atividades as quais se dedicou, Heitor dos Prazeres nasceu no Rio de Janeiro em 23 de setembro de 1898 e morreu na mesma cidade em 4 de outubro de 1966. Seu pai era marceneiro e tocava na banda da Policia Militar, atividades seguidas por Heitor que se iniciou como polidor de móveis e encontrou sucesso na área musical.
Estudou até a quarta série do primário e mesmo trabalhando desde os sete anos foi preso, por dois meses, aos treze, por vadiagem. Sua adolescência transcorreu entre a praça Onze e o Mangue, em contato com os "chorões" e os bambas do samba.
Começou a compor em 1912, aprendendo as lições da cultura popular com mestre Hilário Jovino, que o iniciou nas rodas de samba, em que era respeitado por ser um dos bons de pernada. Não perdia Festa da Penha, onde mostrava suas composições, carregando o cavaquinho, que aprendeu a tocar antes de completar dez anos.
Já conhecido no ambiente do sambas participou da criação de algumas escolas, tendo sido um dos fundadores da De mim ninguém se lembra, além de contribuir para o surgimento de outras como a Deixa Falar, a Mangueira e a Portela, nos anos 20.
Em 1929, venceu um concurso de samba, patrocinado pelo jornal A Vanguarda e realizado na casa do mangueirense Zé Espinguela. O samba A tristeza me persegue seria gravado nos anos 70 pela Velha Guarda da Portela, com grande êxito. Começa então sua maior disputa com Sinhô, envolvendo a autoria de diversos sambas e que acabou rendendo, de parte a parte, algumas jóias da música brasileira.
Francisco Alves gravou Ora vejam só e Cassino Maxixe, sendo suas autorias atribuídas exclusivamente a Sinhô, que com a reclamação de Heitor fez o samba-conselho Segura o boi. Heitor replica com Olha ele, cuidado! e a briga ficaria por ai se Cassino Maxixe não fosse gravada por Mário Reis no ano seguinte (1928), com o título definitivo de Gosto que me enrosco. Heitor dos Prazeres volta ao ataque com Rei dos meus sambas, alusivo ao título de Rei do Samba de Sinhô, que tenta inutilmente impedir a gravação do protesto. Mais tarde Heitor recebeu trinta e oito mil-réis por sua parte na parceria de Cassino Maxixe, acordo que lhe valeu também o reconhecimento da autoria.
Deixaste o meu lar é um samba só de Heitor, mas gravado em 1930 trazendo apenas o nome de Francisco Alves como autor, comprovando o comércio, a venda de sambas pelos compositores pobres aos ricos cantores do rádio.
Em 1931, casou com Glória dos Prazeres e, em 1932, apareceu como parceiro de Francisco Alves em Mulher de malandro, época em que abandonou as escolas de samba para se tornar profissional de rádio. Cria um grupo para acompanhá-lo, batizado como Heitor e Sua Gente. Com Noel Rosa compõe o maior êxito do Carnaval de 1936, Pierrô apaixonado. No ano seguinte, descobriu a pintura (Abaixo: um dos quadros de Heitor dos Prazeres, o pintor dos morros cariocas).
Sem abandonar o samba, iniciou-se como pintor primitivista, o que o levou a participar da Primeira Bienal de São Paulo em 1951, voltando a ela em 1953 e 1961. Esteve também em mostras coletivas em quase todas as capitais sul-americanas, em 1957; na exposição Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, em Paris, em 1965; Pintores Primitivos Brasileiros em Moscou e outras capitais européias, em 1966. No mesmo ano em que morreu, representara o Brasil no Festival de Arte Negra, em Dacar; no Senegal.
Algumas músicas
Obra completa
Abandono, samba, 1928; Afine o cavaquinho, samba, 1944; Africana (c/J.Cascata), marcha, 1940; Ai que dor, samba, 1932; Alegria do morro Brasil, hino do Carnaval, 1939; Amar, meu bem, samba, 1930; Amargurado, samba, 1932; Até que enfim, favela (c/Nelson Gonçalves), samba, 1946; A cachopa e a mulata, marcha, 1951; Cadenciado, choro, 1950; Canção do jornaleiro, canção, 1933; Cansado, samba, 1932; Cantar pra não chorar (c/Paulo da Portela), samba, 1938; Carioca boêmio, samba-choro, 1945; Carnaval na bienal, marcha, 1952; Carnaval na primavera, marcha, 1961; Chora, samba, 1933; Chora, cuica!, samba, 1947; Coisa gozada, rancheira, 1932; A coisa melhorou, samba, 1943; Com saudade de você, samba, 1930; Comigo ninguém pode, samba, 1939; Cosme e Damião, samba 1954; Criança loura, samba, 1930; Crioulinho frajola, marcha, s.d.; Deixa a cuíca chorar, samba, 1949; Deixa eu chorar, samba, 1959; Deixa o palhaço na roda, marcha, 1940; Deixaste meu lar, samba, 1930; Depois do cinema falado, 1941; Desperte, dodô (c/Herivelto Martins), samba, 1946; É só trocar o pé, marcha-frevo, 1947; É tempo, samba, 1933; Ela foi embora, samba, 1964; Entreguei a Deus, samba, 1964; És falsa, samba, 1930; És feliz, samba, 1929; Estou mal (c/André Filho), samba, 1931; Eta, seu mano, baião, 1957; Eu choro, samba, 1932; Eu gosto de Carnaval, samba, 1928; Eu não fiz nada, samba, 1932; Eu não sei se é castigo (c/Bel Luis), samba, 1960; Eu quero uma mulher, marcha, 1951; Eu sei..., samba, 1963; Eu vou comprar, samba, 1933; Fon-fon, marcha, 1933; Fulana granfina, marcha s.d.; Gosto que me enrosco (c/Sinhô), samba, 1928; Hoje eu vivo triste, samba, 1959; Iemanjá (c/Kaumer Teixeira), ponto de macumba, 1954; Já é demais esta tristeza, samba, 1965; Já é hora, já é hora, rancheira, 1932; Lá em Mangueira (c/Herivelto Martins), samba, 1943; Uma linda roseira, marcha, 1963; Liquita, marcha, 1939; Madureira (c/Kaumer Teixeira), samba, 1957; Margarida, marcha, 1928; Maria seu xodó (c/A. Monteiro), samba, 1959; Meus pecados, samba, 1930; Miss crioula, samba, 1930; Mulata cor de jambo, samba, 1937; Mulher de malandro, samba, 1932; Na casa do seu Zé, marcha, 1951; Na sua casa tem... (c/André Filho), samba, 1938; Nada de rock rock, samba, 1957; Não adianta chorar, samba, s.d.; Não há, samba, 1944; Não sei o que vou fazer, samba, 1933; Não sei por que, samba, s.d.; Não sei que mal eu fiz, samba, 1934; Nega, samba, 1939; Nega, meu bem, samba, 1932; Nossa Senhora de Copacabana (c/Kaumer Teixeira), samba, 1956; Nossa separação (c/Herivelto Martins), samba, 1943; Olha a rola, 1933; Olha ele, cuidado, samba, 1928; Olhar e gostar (c/Sílvio Galicho), cena cômica, 1941; Olinda (c/Herivelto Martins), samba, 1946; Pai bendito (c/KaumerTeixeira), ponto de macumba, 1955; Para quem servir, samba, 1930; Pierrô apaixonado (c/NoeI Rosa), marcha, 1936; Primeira linha, samba, 1930; Primeiro nós, samba, 1948; Progresso, samba, 1932; Quanto dói uma saudade, samba, só.; Que será de mim?, samba, 1930; Quebra, morena, samba, 1942; Quem bate na minha porta (c/Henrique Barbosa e João Barbosa), samba, 1939; Quem tem um amor e gosta, samba-choro, 1959; Rei dos meus sambas, samba, 1929; Riso fingido, samba, 1931; Rosa, não chores, samba, 1930; Samba de nego (c/Kaumer Teixeira), samba, 1955, Santa Bárbara, ponto de macumba, 1955; São Cosme e São Damião (c/Kaumer Teixeira), baião, 1955; São Paulo, parabéns (c/Kaumer Teixeira), marcha, 1954; Saudosa favela, samba, 1958; Saudoso trovador, samba-canção 1959; Se eu pudesse formar, samba, 1948; Sem reclamar (c/D. Carvalho), samba, 1961; Sinhá, marcha, 1932; Só acredito em você, samba-canção, 1961; Só eu sei, samba, 1947; Sou eu que dou as ordens, samba, 1946; Tá rezando, baião, 1956; Tia Chimba, embolada, 1930; Todos gostam de você (c/Kaumer Teixeira), baião, 1955; Trapaiada, samba, 1930; Tristeza (c/João da Gente), samba-canção, 1936; A tristeza (c/Herivelto Martins), samba, 1944; A tristeza me persegue, samba, 1927; Tu hás de sentir, samba-canção, 1931; Tu já foste boa, samba, 1930; Tudo acabado, samba, 1945; Tudo azul (c/H. Ricardo), samba, 1960; Um, dois, três..., marcha, 1932; Vai mesmo, samba, 1928; Vai, saudade, samba, 1964; Vai, vai, samba, s. d.; Vem pro samba, mulata, samba, 1957; Vida de casado (c/Sílvio Galicho), cena cômica, 1941; Você pra mim morreu, samba, 1941; Você tem casa e comida, samba, 1946; Volta ao seu lar (c/Kaumer Teixeira), samba 1956; Voltaste ao teu lar, samba, 1935; Vou da um grito, samba, 1932; Vou fazer tua vontade, samba, 1933; Vou te abandonar, samba, 1930; Vou ver se passo, 1934.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.
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