O cantor, compositor e humorista Juca Chaves (Jurandir Czaczkes Chaves) nasceu no Rio de Janeiro em 22/10/1938. Começou a aprender violão aos sete anos e sempre gostou de escrever poesias. Estudou, em São Paulo, no Colégio Mackenzie, onde costumava organizar festas de que participava cantando composições suas. Nessa época, passava férias na praia e, do contato com o mar e os pescadores, surgiu sua inspiração para canções e poesias praieiras.
Estudou com Guerra-Peixe (noções de harmonia, contraponto e fuga), Alceu Maynard Araújo (curso de folclore), Osvaldo Lacerda (teoria) e Nair Medeiros (piano). Foi aluno também do maestro Eleazar de Carvalho, com quem fundou o movimento da Juventude Musical Brasileira.
Aos 16 anos, teve sua composição Nas águas de Saquarema interpretada por Leny Eversong, na Rádio Nacional, de São Paulo, onde Guerra-Peixe era regente da orquestra. Com um grupo de rapazes do Largo São Francisco, de São Paulo, fundou, nessa época, o Grupo de Seresteiros de São Paulo e, entre 16 e 19 anos, produziu diversos poemas. Com Lemos Brito e Ricardo Amaral, foi um dos fundadores em 1955 da revista Rua Augusta Chic, em que escrevia crônicas e versos.
Em 1955, apresentou-se na TV Tupi, de São Paulo. Patrocinado por jovens da alta sociedade, fez seu primeiro recital, em 1957, no Teatro Leopoldo Fróis, contando com a participação de Ricardo Bandeira e sua companhia de mímica. Também no final da década de 1950, editou Pincel da sociedade, coletânea de poemas satíricos, esboçou um início de carreira jornalística, trabalhando como foca nos jornais dos Diários Associados e no diário Última Hora.
Apresentado por Araci de Almeida a Henrique Lobo, diretor da Rádio Bandeirantes, estreou na gravadora Chantecler em 1960, com o disco Nós, os gatos e Chapéu de palha com peninha preta. No ano seguinte registrou em discos compactos, da RGE, seus primeiros sucessos, a modinha Por quem sonha Ana Maria e as sátiras Nasal sensual (referência ao próprio nariz) e Presidente bossa nova (referência ao presidente Juscelino Kubitschek), que seria proibida pela censura, assim como também sua música de 1962 O Brasil já vai à guerra (comentando a compra de um porta-aviões pelo Brasil).
Ainda em 1962, destacou-se com Caixinha.., obrigado, Seguirei teus dúbios passos e Contrabando de café, e, em 1963, gravou Dona Maria Teresa. Nesse mesmo ano foi para a Europa, passando por Portugal, onde realizou apresentações, e depois fixou-se em Roma, Itália; aí tocou órgão em uma igreja, passando depois a tocar piano em cabaré e a se apresentar na televisão.
Compôs, em 1967, Lé com lé, cré com crê, e marcou sua volta ao Brasil, em 1969, com a estréia do show Circo Sdruws, apresentado por todo o país. A seguir teve um programa na TV Record, de São Paulo: Juca, Caviar e Mulher.
Apresentou-se, em 1974, no espetáculo Vá tomar caju, que, tendo sido levado inicialmente na boate Sucata, no Rio de Janeiro, percorreu depois várias cidades do país. Em 1975 lançou Rimas sádicas, música proibida pela censura pelo uso da palavra “tesão”.
Nos anos seguintes, compôs Paixão segundo o nosso amor, Viver de humor, morrer de amor, É vero, ti amo e Sentir-se jovem. No início da década de 1990, criou a gravadora independente Sdruws Records.
Em 1994 lançou novas sátiras musicais e inaugurou, em São Paulo, o Jucabaré — Theatro Inteligente. Dois anos depois, no Teatro Municipal de São Paulo, apresentou o espetáculo Juca Chaves — O menestrel do Brasil, acompanhado pelo Coral Paulistano e pela Camerata Atheneum.
Juca Chaves, o Menestrel do Brasil
A Sátira é a caricatura dos erros de uma sociedade na qual Juca, há mais de três décadas é o seu artista maior. Com sua voz diferente, mas afinidade única, cantava aos dezoito anos, os defeitos do País, debochando, em trovas e canções ousadas demais para a época, políticos, povo e seus costumes. Assim como Gregório de Matos O boca do inferno - Este Cirano moderno, de nariz agressivo, que do violão fez sua espada, pagou e paga um alto pedágio para sua voz, segundo o imortal Jorge Amado, "a mais livre do Brasil". As portas das rádios e TVs se lhe fecharam, os jornais por medo silenciaram e em setembro de 62, com três anos de carreira, o menestrel, assim por todos chamado, exila-se em Lisboa, recebendo de um Jornal de oposição, a República, a alcunha de O Trovador Maldito.
Durante um espetáculo no Teatro Tivoli, para delírio de uma plateia de intelectuais, jovens e estudantes, muitos vindos especialmente de Coimbra só para ouvi-lo, uma piada sua ao Presidente da República, irritou as autoridades portuguesas, em especial o temível PIDE (Polícia Internacional de Defesa de Estado), órgão de repressão do Governo Salazarista, que também não concordou com sua arte liberal. Um novo exílio, desta vez para a Itália onde, por 5 anos virou personagem e fez sua fama.
De retorno à Pátria, em plena ditadura, enfrenta a censura, a imprensa e o temor dos poderosos. Independente, com filosofia própria e sem pertencer a grupos políticos ou, participar de manifestações ideológicas, um modismo dos anos 70, transporta suas músicas aos teatros. Inaugura então seu Circo SDRUWS, atuando sempre sozinho, como um mito isolado da MPB.
Satiriza a Nova República, seus novos hábitos e a velha corrupção. Desafia o poder da comunicação e ironiza a mídia, sendo naturalmente boicotado por algumas revistas, jornais e emissoras de TV e Rádio, que impõem-lhe a Lei do Silêncio. Por outro lado, cativa ainda mais seu público fiel, em programas alternativos. Propõe no Senado o Disco Numerado em defesa do autor, não recebe apoio das autoridades, tampouco da classe e é definitivamente vetado pelas gravadoras e FMs. Cria seu selo independente, a SDRUWS RECORDS - "A VEZ DO DONO" e não "A VOZ DO DONO" - ironizando o cachorrinho da RCA, "Além de burro, ele é surdo", disse Juca - o que lhe custou novo processo.
Em 1994 lança novas sátiras musicais e inaugura seu próprio Theatro Inteligente, o Jucabaré, em São Paulo, onde se apresentou por um ano e fechou as portas para se apresentar nos teatros em todo o país, para segundo ele, "Atender a inúmeros pedidos de credores". Seu lar fica em Itapoã, Bahia. "Lá não faço nada, faço curso para ministro..."
Trinta e nove anos de carreira ou "prostituição artística", como afirma Jurandyr Chaves, o satírico Juca e romântico Juquinha é, inegavelmente, o mais completo e querido one man show. Nisto leva a vantagem de ser man mesmo, ironiza. Compositor, poeta, sonetista das rimas ricas - segundo o Príncipe dos Poetas, Guilherme de Almeida - músico de formação erudita por sua vasta obra (mais de quatrocentas músicas, entre sátiras políticas e sociais e modinhas).
É um mito à parte da cultura brasileira. Recebeu da imprensa portuguesa o título de "O Menestrel da Liberdade" e da brasileira, "O Menestrel do Brasil", na luta contra os patrulhamentos políticos e sociais. Segundo para Zélia Gattai: "É um anarquista". "Graças a Deus", conclui Juca.
Eis aí nosso Juquinha, o Grande Menestrel. Maldito para uns, irreverente para outros, mas para ele mesmo, um Vendedor de Sonhos. O sonho da liberdade, exclusividade daqueles que são e pensam livremente.
Músicas do Juca neste blog
A cúmplice
A situação
Ah! Se o seu fusca votasse
Amor non sense
Aquarela de sonhos
Assim é o Rio
Atraso ou solução
Auto-retrato
Brasil já vai a guerra
Caixinha obrigado
Cantiga para Iara dormir e sonhar
Dona Maria Tereza
Jeová, Jeová
Legalidade
Melô da merda
Menina
Nasal sensual
Pena preta de urubu
Pequena marcha para um grande amor
Políticos de cordel
Por quem sonha Ana Maria
Presidente Bossa Nova
Sou sim e daí
Take Me Back To Piauí
Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora / PubliFolha; http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/.
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